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YouTube, 20, não quer ser rede social e se diz streaming – 14/02/2025 – Tec

Há 20 anos, três ex-funcionários do PayPal deram o primeiro passo para tirar do papel o que é hoje a maior plataforma de vídeos do mundo: registraram o domínio youtube.com. A estreia, de fato, foi em 23 de abril, quando Jawed Karim, um dos fundadores, mostrou que o serviço funcionava ao divulgar o vídeo de uma visita ao zoológico.

A ideia era permitir que as pessoas hospedassem material no YouTube para depois reproduzi-lo em blogs (o que hoje chamamos de embedar ou incorporar). A simplicidade da ferramenta inundou a internet com vídeos, espalhou o clássico símbolo vermelho de play e consolidou a plataforma como um ponto de referência da web.

Propriedade do Google desde 2006, a plataforma remunera mais de 3 milhões de canais e se declara “a nova televisão”, além de mola propulsora de novos negócios. “Os youtubers estão se tornando as startups de Hollywood”, escreveu o CEO do YouTube, Neal Mohan, em carta aberta divulgada nesta semana.

E o Brasil é um mercado prioritário da plataforma, segundo Manuela Villela, a responsável pela assistência aos criadores no YouTube Brasil. “A maior parte do conteúdo consumido no Brasil é produzido internamente e atinge milhões de pessoas”, afirmou.

A variedade de gêneros distribuída pelos 100 canais mais populares do Brasil reforça a tese da empresa de tecnologia. Eles exibem de programas infantis a pequenas novelas, passando pela transmissão de esporte ao vivo e clipes de funk.

Lançado para hospedar vídeos caseiros, o site hoje atrai criadores pela possibilidade de produzir conteúdo mais sofisticado e pela constância nos pagamentos. “O YouTube tem uma regra clara de repasse e garante uma certa previsibilidade”, afirmou a CEO da consultoria Youpix, Rafaela Lotto.





[Até 2015] Se você fizesse 1 milhão de visualizações no YouTube, de vídeos longos, você recebia R$ 800 e eu achava ótimo. Hoje em dia, com as mesmas 1 milhão de visualizações, o criador gera de R$ 5.000 a R$ 6.000

O site afirma que nos últimos três anos incluiu mais de 700 mil canais em seu programa de parcerias (YPP, Youtube Partnership Program). Muitos deles seriam antigos criadores que retornaram à plataforma após tentar a sorte na concorrência (Instagram e TikTok), segundo a empresa.

Para se enquadrar no YPP, o canal precisa ter mil inscritos, mais 5.000 horas de exibição de vídeos ou 10 milhões de visualizações em shorts —um formato de vídeos curtos similar ao aplicativo chinês.

Um dos canais fundados nesse período foi a CazéTV, do jornalista esportivo e influenciador Casimiro Miguel. A escolha pela plataforma de vídeos se deu por causa do algoritmo de recomendação de vídeos e pelo seu grande alcance, disse o cofundador da empresa Sérgio Lopes —o YouTube é o segundo site mais acessado do mundo, seguido do próprio Google, segundo a plataforma de audiência SimilarWeb.

A transmissão dos jogos olímpicos pela CazéTV mostrou que tecnicamente a plataforma está mais próxima da televisão digital. Era possível, por exemplo, assistir a quatro telas ao mesmo tempo e escolher qual áudio ouvir. Outro exemplo de tecnologia no site é o canal de Mr. Beast, o mais visto no mundo, que transmite, com auxílio de inteligência artificial, programas dublados em diversos idiomas.

“Trabalhamos de forma muito próxima com os times do YouTube no Brasil e na Califórnia para garantir estabilidade e fluidez em grandes eventos”, afirmou Lopes, referindo-se à assistência prioritária que a big tech garante aos criadores considerados estratégicos.

“Das 10 maiores audiências ao vivo do YouTube no mundo, a CazéTV foi responsável por cinco, inclusive a maior em esportes no jogo Brasil contra Croácia na Copa do Mundo de 2022 com um pico de 7,8 milhões de espectadores simultâneos”, afirmou o empresário.

Para o sócio da Play9 João Pedro Paes Leme, que fundou a companhia de marketing de influência em parceria com o influenciador Felipe Neto, o portal do Google escolheu se afastar dos concorrentes com mais cara de rede social —TikTok e Instagram— para se aproximar do streaming.

“Hoje, na Play9, já levamos essa mudança em consideração e até mesmo os planos de câmera, que no início do YouTube eram mais fechados para dar boa visibilidade nos celulares. Agora eles passaram a ser pensados como planos para quem acompanha no aparelho de televisão”, disse Leme.

De acordo com um relatório da Kantar Ibope Media, o YouTube também é o streaming com maior tempo de exibição em TVs conectadas. Ao todo, 75 milhões acessão a plataforma por meio da televisão.

No Brasil, 70 milhões de pessoas têm o aplicativo do YouTube instalado na TV, segundo levantamento da YouPix feito em parceria com a NielsenIQ.

Lotto, da YouPix, afirma que as pessoas preferem encontrar vídeos para assistir na plataforma por meio da busca, e não só receber recomendações do algoritmo. Essa tendência se converte em maior venda de produtos via anúncios e em mais fidelidade aos canais, segundo a especialista.

Nesse contexto, os criadores podem se arriscar a produzir até conteúdos seriados e buscar outras formas de renda, como as assinaturas e as doações via chat (as mensagens pagas chamadas de superchat).

Dono de canal há 10 anos e hoje agenciador de influencers, Pedro Gelli disse que muito mudou desde 2015. “Se você fizesse 1 milhão de visualizações, de vídeos longos, não existia shorts, você recebia R$ 800 e eu achava ótimo”, ele recorda.

“Hoje em dia, com as mesmas 1 milhão de visualizações, o criador gera de R$ 5.000 a R$ 6.000”, complementa.

Até 2019, ele se sustentou apenas com os proventos do sistema de parcerias do YouTube, mas depois buscou outras redes para consolidar a própria marca. Para Gelli, o influenciador profissional tem de marcar presença nos mais diversos pontos da web e diversificar os produtos, pensando em livros, mentorias e palestras.

Em 2021, ele decidiu direcionar seu conhecimento sobre as redes e as conexões que tinha com a plataforma ao serviço de outros criadores. Foi então que ele abriu a própria agência, CurtaHub.

O negócio tem clientes variados. A criadora Lorrayne Oliveira, com 11,3 milhões de inscritos, por exemplo, produz programas seriados sobre situações cotidianas que lembram novelas. Zeka Ramos, por sua vez, cria vídeos sobre atividades físicas e bem-estar.

“Quando eu gravava vídeos era como se eu estivesse fazendo mais do mesmo todos os dias, e a Curta me tirou essa sensação”, disse o empresário. Como o único custo da agência “foi abrir o CNPJ”, a empresa se pagou no segundo dia de operação, quando vendeu a primeira publicidade. “Desde então, temos 49 meses de operação no verde.”

LINHA DO TEMPO

14/02/2005 – Fundadores do YouTube Jawed Karim, Chad Hurley e Steve Chen registram o domínio youtube.com

23/04/2005 – Eles hospedam o primeiro vídeo na plataforma, “Me at the zoo”. O material, publicado por Karim, retratava uma visita ao zoológico de San Diego, na Califórnia

02/11/2006 – A companhia de tubos e conexões Universal Tube (Utube) processa o YouTube por violações de direito de marca, após ter o site derrubado devido ao tráfego intenso de pessoas procurando a plataforma de vídeo

09/10/2006 – Google compra plataforma de vídeos por US$ 1,65 bilhão em ações e o YouTube se torna uma subsidiária do gigante das buscas

2011 – YouTube cunhou o termo economia dos criadores, setor que movimentou US$ 250 bilhões (R$ 1,44 trilhão na cotação atual) em 2023, segundo o banco Goldman Sachs

31/10/2015 – YouTube lança o plano Premium, que garante acesso sem anúncios a quem adere à assinatura

22/05/2018 – Plataforma anuncia o streaming de música YouTube Music

09/2020 – YouTube lança plataforma de vídeos curtos shorts. Recurso chegou ao Brasil em junho de 2021

Visto primeiro na Folha de São Paulo

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