Salão do Automóvel de Xangai exibe novos carros elétricos apesar das tarifas de Trump
O Auto Xangai, maior salão do automóvel do mundo, abriu as portas nesta quarta-feira (23) em Xangai. Com quase mil expositores, os fabricantes estrangeiros de automóveis tentam demonstrar que podem enfrentar as ultracompetitivas empresas chinesas que dominam o setor elétrico. Modelo BYD Ocean S é exibido durante a 21ª Exposição Internacional da Indústria Automobilística de Xangai, no Centro Nacional de Exposições e Convenções da cidade
Héctor Retamal / AFP
O ‘Auto Xangai’, maior salão do automóvel do mundo, abriu as portas nesta quarta-feira (23) em Xangai com as últimas inovações tecnológicas no setor de carros elétricos, em meio às barreiras comerciais que afetam as ambições globais da China.
Com quase mil expositores, os fabricantes estrangeiros de automóveis tentam demonstrar que podem enfrentar as ultracompetitivas empresas chinesas que dominam o setor elétrico.
As empresas alemãs, que já dominaram o mercado no país asiático, participam do evento como montadoras de automóveis ‘produzidos na China e para a China’.
Carro voador da Chery
WANG Zhao / AFP
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A Volkswagen, o maior grupo estrangeiro no país, apresentou uma série de novos veículos elétricos e um sistema de assistência ao motorista projetado especialmente para o ecossistema digital chinês.
No estande da BMW, um executivo conversou em mandarim com um assistente de inteligência artificial antes da entrada do CEO, Oliver Zipse, no palco com um veículo utilitário de design futurista da linha ‘Neue Klasse’.
“Na BMW, continuaremos defendendo (…) os mercados abertos”, declarou Zipse, antes de acrescentar que “os desafios globais exigem cooperação global”, em uma aparente referência à turbulência comercial provocada pelas tarifas americanas.
BMW Vision Neue Klassex
WANG Zhao / AFP
Concorrência brutal
As marcas estrangeiras enfrentam uma concorrência brutal de dezenas de rivais locais. O apoio chinês ao desenvolvimento de carros elétricos e híbridos resultou no crescimento do mercado local, que segundo analistas é mais jovem e aberto às novidades.
O ‘Auto Xangai’, que prosseguirá até 2 de maio, terá uma série de lançamentos. Dezenas de marcas estão presentes, de gigantes estatais até empresas emergentes como Li Auto e Xpeng, gigantes do setor de tecnologia como Huawei e a marca de produtos eletrônicos Xiaomi, que se tornou uma empresa de carros.
As empresas chinesas desenvolveram mais rapidamente e com mais inovação tecnológica devido à concorrência local.
Modelo Denza Z9, da divisão de luxo da BYD
Héctor Retamal / AFP
Uma multidão se reuniu diante do estande da líder do setor BYD para a apresentação de cinco novos carros da série Ocean, assim como um veículo utilitário de luxo de sua filial Yangwang, além de um veículo esportivo sob a marca Denza.
O executivo William Li, da marca Nio, apresentou o modelo ET9, impulsionado por dois chips de direção inteligente patenteados.
A Xpeng revelou suas baterias com tecnologia de IA que possibilitariam um percurso de 420 km com 10 minutos de carga.
BYD Seal 06 DM-i
Héctor Retamal / AFP
Mas o mercado chinês também enfrenta problemas: algumas empresas faliram e outras, como SAIC Motor, BYD e Geely, travam uma guerra brutal de preços.
“O setor é muito competitivo e nem todos vão sobreviver”, declarou à AFP o presidente da Xpeng, Brian Gu.
Muitas empresas chinesas pretendem avançar no mercado internacional para que suas vendas no sudeste asiático, Europa e América Latina garantam seu futuro.
Contudo, a Nio admitiu na terça-feira (22) que havia subestimado as dificuldades de expansão na Europa, com obstáculos logísticos e tarifários que afetam a competitividade de seus preços.
Leapmotor B10 foi confirmado pelo Grupo Stellantis para o Brasil
Divulgação | Leapmotor
Para acirrar ainda mais a competitividade fora da China, a Leapmotor, marca parceira da dona da Fiat, a Stellantis, confirmou que o B10 será o segundo modelo a ser comercializado no Brasil. O primeiro, anunciado anteriormente, é o C10.
“Com o B10 e o C10, a Leapmotor disputará uma fatia significativa do segmento de SUVs médios e grandes eletrificados, entregando ao cliente produtos surpreendentes que certamente serão um salto de inovação em relação à concorrência”, afirma Fernando Varela, vice-presidente da Leapmotor para a América do Sul.
Segundo a Stellantis, o B10 é equipado com um dos chips mais modernos do mundo, o Snapdragon 8155 da Qualcomm. De acordo com a fabricante, o sistema é capaz de integrar toda a eletrônica do carro, com diferentes sistemas (cmomo controle de bateria, motor, ADAS e plataforma). Assim, tudo se conversa em uma só central.
A integração permite uma resposta mais rápida de cada equipamento, possibilitando, assim, uma experiência mais ágil. A redução do número de centrais eletrônicas também diminui a complexidade e manutenção do veículo no futuro.
O Leapmotor B10 tem 4,51 metros de comprimento e entre-eixos de 2,73 m
Divulgação | Leapmotor
Ficha técnica do Leapmotor B10 com especificações do modelo chinês. Para o Brasil, podem haver mudanças. Veja as duas opções de bateria que ele tem na China:
Bateria 1: 56,2 kWh com autonomia de 380 km;
Bateria 2: 67,1 kWh com autonomia de 460 km;
Potência: 218 cv;
Torque: 24,5 kgfm;
Comprimento: 4,51 m;
Largura: 1,88 m;
Altura: 1,65 m;
Entre-eixos: 2,73 m.
Preocupação com as tarifas
As tarifas também preocupam empresas estrangeiras que fabricam carros na China, como as americanas General Motors e Ford.
Pequim e Washington estão em um impasse depois que a política tarifária de Donald Trump desencadeou uma crise entre as duas potências, com taxas recíprocas extremamente elevadas.
Desde o ano passado, os fabricantes chineses enfrentam tarifas adicionais da União Europeia, que considera que o apoio estatal chinês às suas empresas prejudica os fabricantes europeus.
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As exportações para a Rússia e o Oriente Médio ajudaram a amortecer os impactos, indicou na terça-feira a empresa AlixPartners.
Outros obstáculos são internos, como a frágil recuperação econômica pós-pandemia.
Ainda assim, o analista alemão Ferdinand Dudenhoeffer afirmou na terça-feira que o evento em Xangai demonstra que a China não perdeu força.
“Se nossa indústria automotiva quiser recuperar o sucesso do passado, deve ser mais como a China”, afirmou.
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