Por que briga de EUA e China pela hegemonia em IA vai remodelar o mundo – 08/03/2025 – Ilustríssima

[RESUMO] Disputa para liderar a revolução tecnológica desencadeada pela inteligência artificial promete remodelar a geopolítica nas próximas décadas, de forma tão acentuada quanto a Guerra Fria. EUA e China protagonizam os embates, mas Europa, Coreia do Sul e Taiwan também ocupam papéis importantes no tabuleiro de acordos, embargos e transferência de tecnologia deste jogo de resultados imprevisíveis.

A evolução tecnológica acelera-se com o tempo e, com ela, a tendência a enxergar as coisas que inventamos como uma segunda natureza. Inteligências artificiais (IAs) generativas são uma etapa desse processo no domínio das criações que externalizam e automatizam a nossa inteligência. A fase seguinte envolverá robôs com sensores e sistemas motores que replicam os nossos, afinal, o mundo não se resume a telas.

Os incentivos para liderar a evolução tecnológica são tremendos e estão sendo discutidos nos grandes centros de poder sob o prisma da infraestrutura.

Tal como a internet baseia-se em cabos interoceânicos, satélites e protocolos universais de comunicação, não tardará o momento de estabelecer protocolos para que as IAs e os sistemas físicos em que são embarcadas possam interagir globalmente e multiplicar seu impacto, o que deve ser decidido em função da relevância das alternativas. Isso faz da corrida pela supremacia em IA a mais importante desde a era nuclear.

Estados Unidos e China dominam a cena, que não é mero replay da antiga Guerra Fria. Ainda que as faíscas estejam por todos os lados, os adversários são interdependentes, sem contar que estão no negócio de oferecer alternativas para o mundo livre, o que a União Soviética via com ceticismo.

Até aqui, os dois gigantes vêm adotando estratégias opostas. O incumbente ocidental opta pela defesa exaustiva de seus segredos, enquanto o desafiante aposta na pulverização do conhecimento por meio da distribuição de soluções de código livre.

A intenção é evitar que o consórcio público-privado americano consolide seu monopólio, enquanto corre para reduzir o gap tecnológico que subsiste, a despeito de os chineses contarem com ativos valiosos: alunos mais bem formados em exatas, 200% mais engenheiros de software e ética de trabalho superior.

Uma vantagem potencial de Pequim é ser mais simpática para os países em desenvolvimento, consolidando sua liderança entre o Brics, que hoje representa 40% da população mundial e 35% do PIB por paridade de compra. Enquanto Trump distribui cotoveladas, Xi Jinping, líder chinês, pensa obsessivamente em destravar a demanda reprimida das economias médias. No entanto, a missão é mais difícil do que parece.

O segredo das IAs atuais é colocar o processador (GPU) para resolver matrizes de comparação de palavras, até o ponto em que dê para assumir que uma é boa. O mesmo vale para imagens, vídeos e tudo o mais.

A mágica, portanto, não emerge somente dos algoritmos generativos, mas do hardware, onde as demandas a serem destravadas encontram embargos e outros obstáculos de natureza geopolítica, que os chineses não conseguem contrapor com seus próprios trunfos materiais, como a hegemonia no refinamento das terras raras, fundamentais para a indústria tecnológica.

A contenda sobre os segredos industriais desses hardwares é antiga e já envolveu múltiplas empresas e países. Ela começou a ganhar contornos quando William Shockley descobriu uma propriedade fascinante do germânio, utilizado na construção de radares. Dependendo da corrente aplicada, o material se torna condutor ou isolante.

Isso o remeteu a Alan Turing, que inventou o processador universal para quebrar a criptografia nazista (Enigma), abrindo as portas para uma revolução produtiva e intelectual. O problema é que a máquina de Turing dependia de técnicos, os “computadores”, que faziam as operações usando switches.

A descoberta de Shockley permite a substituição desse trabalho manual pela própria eletricidade. Quando ela passa, temos o “1”; quando não, temos o “0”. Assim surgiram os semicondutores e, moto-contínuo, o Vale do Silício.

O desafio decorrente nunca deixou de ser atual: como compactar mais semicondutores em um único circuito? Esse fator é crucial, já que o aumento da distância entre eles reduz o poder de processamento, de nada adiantando construir circuitos do tamanho de uma cidade.

A resposta veio do entendimento de que os próprios circuitos poderiam ser feitos de semicondutores, o que deu origem ao chip, criado por dissidentes do grupo de Shockley (fundadores da Intel) e considerado a invenção mais importante do século 20 pelos historiadores da tecnologia.

O material era caríssimo, a construção complicada e o mercado incipiente, mas em 1957 os russos lançaram o Sputnik, primeiro satélite a orbitar a Terra, levando a Nasa a procurar inovações capazes de tirar o atraso americano.

Chips prometiam reduzir substancialmente o peso dos controladores a bordo dos satélites, alterando o curso da corrida espacial e talvez até levando o homem à Lua, o que de fato aconteceu em 1969 para o espanto do mundo.

A década de 1960 foi de imensa tensão entre os Estados Unidos e a União Soviética, a qual também desenvolveu sua indústria de semicondutores, com o objetivo de se preparar para a corrida armamentista.

Na ocasião, surgiram as primeiras restrições à exportação de circuitos eletrônicos e os primeiros esquemas para burlá-las, com os soviéticos montando empresas de fachada ao redor do mundo para comprar e repassar os chips para os russos, que os replicavam em um complexo industrial perto de Moscou. Funcionou bem por uma década.

Mais de 90% dos microprocessadores fabricados na década de 1960 tinham destinação militar. A obsessão com a Terceira Guerra Mundial canalizou as verbas estatais para pesquisa e desenvolvimento, o que levou ao barateamento dos chips e, por consequência, ao fortalecimento da indústria de eletroeletrônicos, que já na década seguinte havia ultrapassado a militar e hoje produz mais de 1,5 trilhão de chips por ano. Foi exatamente aí que a natureza planificada da economia soviética cobrou o seu preço.

Entre a metade da década de 1960 e a reestruturação econômica de 1986 (Perestroika), a distância entre a qualidade dos bens produzidos no Ocidente e a do mundo soviético acentuou-se dramaticamente, justamente porque a eletrônica era incipiente.

Quem se lembra do Lada sabe do que estou falando: mecânica de tanque, experiência de carroça. A razão é a ausência de circuitos integrados nas montadoras, o que se estendia às fábricas de geladeiras, telecom, máquinas industriais e aos computadores pessoais, que ninguém tinha em casa.

Boa parte da insatisfação da população soviética advinha do conhecimento de que havia televisões coloridas e máquinas automáticas de café do outro lado da Cortina de Ferro.

Chips elevam tremendamente as experiências sensoriais e tiveram papel muito maior para a sublevação contra o comunismo soviético do que aparece nos livros de história.

Esses pequenos geradores de experiências tecnológicas também são fundamentais para a compreensão da inserção da Rússia capitalista na ordem mundial. O país atropelou os Estados Unidos e seus aliados em uma invasão em plena Europa —sendo que modelos empíricos mostram que é cerca de três vezes mais difícil invadir um país do que defendê-lo—, ao mesmo tempo que foi incapaz de registrar uma única patente relevante neste século.

O fator que fez com que os russos ficassem na poeira é o mesmo que explica a emergência da China, na esteira de outros países asiáticos: a priorização da indústria de eletroeletrônicos, composta de bilhões de consumidores, em vez da bélica, composta de um punhado. No mercado global de tecnologia, mais do que em qualquer outro, ser o melhor decide o jogo.

Foi exatamente por essa via que o primeiro grande rearranjo produtivo do pós-guerra ocorreu, durante a década de 1980, com a emergência do Japão como potência criativa e econômica da então chamada terceira revolução industrial.

Livre de embargos, os japoneses foram de importadores de semicondutores americanos para líderes incontestes no mercado civil de alta tecnologia e donos de 50% das fábricas do mundo. Nada ilustra melhor essa história do que o walkman, uma invenção do brasileiro Andreas Pavel convertida em produto de mercado em 1979, que entrou para o dicionário Oxford em 1986, por ter se tornado sinônimo da categoria.

O toca-fitas portátil, com seus quatro chips, foi o segundo produto tecnológico moderno mais importante da história, só perdendo para o iPhone (2007). Porém, no ano de sua consagração vernacular, os americanos forçaram os japoneses a assinar um acordo que limitava severamente suas exportações de chips, ao mesmo tempo que passaram a fazer transmissões maciças de tecnologia para a Coreia do Sul, cuja indústria era incipiente.

A economia do Japão tomou um tombo do qual nunca se recuperou, ao passo que a do tigre asiático cresceu sob princípios que impedem o país de se tornar um novo Japão.

Por outro lado, conseguiu embargar a exportação de tecnologias não militares de ponta para a China, arquiteta da invasão da parte Sul pela Norte (Guerra da Coreia, 1950-1953), ainda que essa restrição não fosse crítica para os americanos. Enquanto isso, no Ocidente, livros sobre inovação e livre mercado eram impressos para as massas.

A globalização tecnológica

A entrada dos computadores pessoais na casa das pessoas, durante a década de 1980, levou a uma especialização dramática da cadeia produtiva de eletrônicos, mas um princípio se mantinha: os fabricantes de semicondutores tanto concebiam quanto produziam os dispositivos responsáveis pela experiência de magia.

Suas fábricas custavam bilhões, e toda vez que alguém aparecia com uma descoberta digna de um Prêmio Nobel —foram vários— iniciava-se uma guerra orçamentária para definir se valeria ou não a pena reconstruir o parque industrial para acomodá-la.

Essa é a narrativa de alguns dos “nãos” mais desastrosos da história da tecnologia, como o da Kodak, que rejeitou a criação de máquinas fotográficas digitais (1976), e o da Blackberry, que fez o mesmo em relação às telas sensíveis ao toque (2007).

Em 1987, Morris Chang, então com 55 anos (o equivalente profissional de 65 anos atuais), migrou dos Estados Unidos para Taiwan, onde colocou em prática a ideia que molda a atual geopolítica da IA: uma indústria de semicondutores exclusivamente dedicada à fabricação de chips para outras empresas, que ele batizou de TSMC.

Chips são a criação em escala mais complexa da história da humanidade. Eles são prédios microscópicos, com pavimentos de plantas gigantescas, com uma profusão de detalhes obsessivamente ordenados. O WSE-3 da Cerebras (fabricação TSMC), chip de IA mais avançado do mundo, possui 4 trilhões de transistores ao longo dos seus pavimentos.

Como se observa nesse caso e em todos os outros, os avanços produzidos são a verdadeira expressão do que a parceria científico-empresarial significa. Eles raramente acontecem sem saltos teóricos extraordinários, seguidos por invenções produtivas capazes de convertê-los em existências ordinárias.

Assim, é de se entender por que ninguém deu atenção àquilo que o ex-engenheiro da Texas Instruments se meteu a fazer, numa época em que o Japão dominava, com um modelo produtivo em que chips e produtos eram vistos como uma coisa só.

No entanto, o mundo estava errado, e Chang, certo. A partir da virada do milênio, os gigantes da tecnologia passaram a abandonar a fabricação do segredo do seu negócio para se concentrarem em seu design.

Surgia assim o conceito de “fabless”, as empresas de tecnologia sem fábricas de supercondutores, que hoje se aplica à Apple, à Microsoft, à Tesla e até à Nvidia, que equipa todas as outras com chips fabricados por Morris Chang.

A relevância geopolítica da TSMC, responsável por 15% do PIB de Taiwan em 2023/2024, excede a da grande maioria dos países e faz dela a empresa mais importante do mundo. Apenas ela é capaz de fabricar os chips que estão na fronteira da virada para a IA, que caminha para se consolidar como um dos três grandes pilares da dominância global, junto com a moeda de reserva e o parque de armas, que vem se fundindo à IA.

A empresa taiwanesa exerce papel correspondente ao das grandes petroleiras na estratégia dos americanos para tentar assegurar sua hegemonia global pelo maior tempo possível.

Nos últimos cem anos, o pilar central do imperialismo americano foi o controle da distribuição do petróleo, maná do mundo moderno. Durante a Segunda Guerra, 60% do óleo do mundo era produzido pelos Estados Unidos, o que permitiu ao país endividar os aliados (Lend-Lease Act, 1941), antes mesmo de qualquer discussão sobre a reconstrução da Europa, criando as bases para acordos que consolidaram a hegemonia americana no “Oeste”.

A ideia agora é abrigar, sob as asas de águia do Estado, as empresas responsáveis por tornar a IA a infraestrutura do mundo digital, robótico e militar. Esse é o prisma pelo qual o risco de uma invasão chinesa a Taiwan precisa ser visto.

O que está em jogo não é só a soberania de um protetorado ocidental no Mar da China, mas o risco de disrupção da indústria que hoje alicerça a principal estratégia para a manutenção da supremacia global dos americanos, em meio aos indicadores de declínio da unipolaridade.

A situação é séria a ponto de existirem planos para a implosão das fábricas da TSMC no caso de uma invasão chinesa. O mundo entraria em recessão, mas os chineses pagariam seu preço.

Paralelamente, os americanos correm para internalizar a cadeia produtiva da IA. Em 2022, foi promulgado o Chips & Science Act, uma lei de incentivo multibilionária para fomentar a indústria de semicondutores do país, com apoio de republicanos e democratas, da Câmara e do Senado e do governo federal.

O impulso foi um acordo com Morris Chang para a construção de unidades da TSMC nos EUA. A primeira está prestes a entrar em operação (no Arizona em 2025), mas já é certo que permanecerá distante da capacidade de fabricar em escala os chips que definirão o futuro da IA.

A razão é que a TSMC não é simplesmente a líder na criação das pecinhas mais complexas do mundo; ela é a arquiteta de uma cadeia logística sem precedentes.

No centro desta está a ASML, da Holanda, que comercializa as máquinas usadas na indústria desses chips avançados, as quais custam US$ 380 milhões cada uma e são consideradas as mais sofisticadas peças de engenharia de todos os tempos.

A empresa holandesa detém sozinha o segredo da fotolitografia por raios ultravioleta extremos (EUV), uma técnica para criar circuitos em escala atômica, usando pulsos de laser em plasma que geram raios ultravioleta a 13,5 nanômetros, direcionados pelos espelhos ultraprecisos para printar os circuitos. É bem complexo, mas lembra o mimeógrafo.

A única indústria capaz de produzir esses espelhos é a alemã Carl Zeiss. Mais de cem outros componentes do equipamento só têm um fornecedor mundial, quase todos na Europa e no Japão. A máquina de EUV tem sua venda proibida para a China desde 2019 e há um cuidadoso controle para outros países, supervisionado pelos governos holandês e americano.

Essa cadeia logística traduz o que é a globalização na atualidade. Trata-se de algo diferente do que cantou Gilberto Gil em “Parabolicamará” (1991) e pode ser sumarizado assim:

1) Ainda que Trump esteja subtraindo o protagonismo americano em boa parte das instituições globais e taxando amigos e inimigos, segue totalmente investido na blindagem da cadeia logística que verdadeiramente importará para a supremacia americana nas próximas décadas. Salvo exceções de método, o ponto é consensual nos Estados Unidos há décadas.

2) A Europa, o Japão e, claro, Taiwan têm papéis bem mais importantes na revolução da IA do que uma análise da procedência dos softwares sugere. Como se diz nesse meio, a TSCM tem o poder de paralisar o mundo, e a ASML tem o poder de paralisar a TSMC.

A corrida para estabelecer a IA como a nova infraestrutura global nem sempre passa pelas empresas que ocupam as manchetes, como a OpenAI e o Google. Aliás, ela cada vez mais tende a estar relacionada a fabricantes de armas autônomas e outros sistemas robóticos, que vêm fazendo o caminho inverso ao que nos trouxe até aqui, incorporando avanços das tecnologias civis na criação de máquinas de matar que não geram publicidade negativa em casa.

3) A despeito de todos os avanços conseguidos, a China está de três a cinco anos atrás dos americanos no que se refere à fabricação de chips de última geração, uma vez que esta emerge de uma miríade de patentes embargadas, as quais são oriundas de décadas de trabalho em centros de pesquisa espalhados pelo Ocidente e Japão.

Mesmo que os chineses tomassem as fábricas de Taiwan e passassem a produzir chips de última geração, seguiriam sem acesso continuado às máquinas de fotolitografia da ASML, necessárias para a próxima e mais crítica fase da IA.

4) Os embargos vêm obrigando a China a colocar todos os esforços na internalização da cadeia produtiva completa dos chips de IA e a fazer o mesmo na translação à produção de robôs de trabalho e armas autônomas. Os avanços são notáveis, como mostram os novos chips de IA da Huawei.

No entanto, a verdade é que eles apenas decorrem de usos mais espertos de máquinas antigas da ASML e não do domínio sobre a litografia de ponta.

Se esta for dominada, o que em algum momento deve acontecer, o padrão dólar será o último bastião da hegemonia americana, que desse modo tende a sucumbir. Alijar a China da cadeia produtiva mais importante do mundo é vantajoso para os EUA em curto prazo, mas introduz riscos altíssimos de médio e longo tempo.

Toda disputa tem um fim

Os chips mais avançados da atualidade são os da TSMC de 3 nm (nanômetros), sendo que um fio de cabelo tem cerca de 100.000 nm. A empresa, assim como Samsung, Intel e a startup japonesa Rapidus, tem planos de lançar uma versão de 2 nm em 2027 e seguir em direção aos angstroms (décimos de nanômetros), o tamanho dos próprios átomos.

Os incentivos são bilionários, e as consequências, planetárias, o que sugere que os empecilhos fabris serão superados. Todavia, o repto não acaba aí.

A partir de 2 nm —e, sobretudo, 1nm—, fenômenos quânticos tomam conta, fazendo com que os elétrons atravessem as barreiras estabelecidas pelos semicondutores como se esses não existissem, o que torna estéril a própria noção de design de circuito.

Soluções hipotéticas estão cobrindo sucessivas capas da revista Nature, em geral pela manipulação de outros efeitos quânticos para neutralizar os indesejáveis.

No Vale do Silício e em Shenzhen, a aposta é que haverá uma transição tecnológica, durante a primeira metade da década que vem, por meio da qual mesmo os processadores digitais serão semiquânticos.

A mecânica quântica é centenária, mas a aplicação dos seus princípios para computar é nova e radicalmente complexa. Isso significa que a conjuntura pode voltar a ser como na época em que Alan Turing bateu o Enigma pela capacidade de tratar a ciência fundamental de modo superior.

Essa é justamente a aposta em curso na China, que vem multiplicando seus investimentos, enquanto Trump e seu tecnologista-mor passam a faca no Orçamento.

Visto primeiro na Folha de São Paulo

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