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Bolsa em alta e dólar em baixa: o que influenciou os investimentos em 2023 e o que esperar para 2024


No Brasil, o quadro fiscal e a nova presidência no BC devem ficar no radar. No exterior, o foco estará no patamar de juros das economias desenvolvidas, nos sinais de desaceleração da China e nas guerras que acontecem no Leste Europeu e Oriente Médio. Painel mostra variação de mercado na B3, em São Paulo.
Amanda Perobelli/Reuters
O volume de dinheiro investido pelos brasileiros não para de crescer. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que os investimentos por pessoas físicas do país somaram R$ 5,5 trilhões em setembro de 2023.
O número representa um crescimento de 9,7% em comparação ao montante total investido no ano passado, de R$ 5 trilhões. Em relação ao mesmo período de 2022 (R$ 4,9 trilhões), a alta foi de 12,4%.
Apesar do crescimento em volume alocado por brasileiros, especialistas reforçam que este não foi um ano de 2023 fácil para investidores, que precisaram lidar com períodos de alta incerteza e volatilidade dos ativos nos últimos meses.
No Brasil, ficaram no radar as discussões sobre o quadro fiscal do país e quais as medidas o novo governo conseguiria promover para controlar os gastos públicos.
No exterior, as atenções estão na perspectiva de início do ciclo de corte juros nas economias desenvolvidas, enquanto o cenário de inflação elevada e sinais tardios de desaceleração econômica continuaram a pressionar os juros nos EUA e na Europa.
Nesta reportagem, o g1 mostra como o mercado financeiro reagiu a esse momento da economia global e como foi o rendimento anual dos principais investimentos em 2023, comparado a anos anteriores. O corte temporal foi o dia 4 de dezembro.
Veja os resultados e, abaixo, o “glossário” dos itens citados no gráfico:

CDI: sigla para Certificado de Depósito Interbancário, o CDI é uma taxa de juros de referência para empréstimos feitos entre bancos. Assim, quando um investimento rende 100% do CDI significa que obteve um retorno equivalente a essa taxa.
Poupança: a caderneta de poupança é o investimento mais tradicional e popular do Brasil. Ela foi criada no século 19 para proteger o dinheiro da inflação e garantir o poder de compra, sendo isento de imposto de renda e taxas de administração. Comparado às demais aplicações financeiras, no entanto, seu retorno costuma ser menor.
Ibovespa: o Ibovespa é o principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3. Ele é o principal indicador de desemprenho da bolsa, uma vez que representa a variação média das ações das principais companhias listadas.
Dólar: é a moeda norte-americana.
Ouro: é uma commodity metálica, cujo investimento é mais buscado em momentos de incerteza. Isso acontece porque o metal costuma proteger contra a inflação, a desvalorização das moedas e os riscos do mercado.
Commodities: Commodities é o nome dado pelo mercado às matérias-primas amplamente negociadas ao redor do planeta e que são essenciais para a economia mundial. Elas são divididas em diversas categorias, como: agrícolas, minerais, ambientais e financeiras.
Fundos multimercados: são carteiras de investimentos que mesclam aplicações em diversos mercados, como ações, renda fixa e câmbio, por exemplo.
Fundos imobiliários: são carteiras de investimentos que alocam recursos no setor imobiliário. Os recursos captados podem ser usados desde para aquisição de diversos tipos de ativos imobiliários como também para compra de títulos de valores mobiliários ligados ao setor.
Fundos imobiliários dos Estados Unidos: carteiras de investimentos que alocam recursos no setor imobiliário norte-americano.
IRF-M: sigla para Índice de Renda Fixa de Mercado, é um indicador que mede o desempenho de títulos do mercado de renda fixa, servindo como um parâmetro de rentabilidade para esses ativos. Segundo a Anbima, o índice representa a evolução, a preços de mercado, da carteira de títulos público prefixados.
IMA-B5: sigla para Índice de Mercado Ambima, o indicador também é uma referência para investimentos em renda fixa. O IMA-B5, especificamente, é formado por títulos públicos indexados à inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), com vencimento de até cinco anos.
Treasury de 7 a 10 anos: são títulos emitidos pelo Tesouro norte-americano para financiamento das dívidas do governo do país, que possuem vencimento entre 7 e 10 anos.
MSCI ACWI: é um índice projetado para representar o desempenho de ações de grande e médio porte do mundo, em 23 mercados desenvolvidos e 26 emergentes.
S&P 500: é um dos principais índices das bolsas dos Estados Unidos. Segundo a XP, o índice é amplamente usado como referência para investidores e profissionais financeiros, pois fornece uma visão heterogênea da economia norte-americana. Ele é composto pelas 500 maiores empresas do mundo listadas na bolsa de valores de Nova York (NYSE) e na Nasdaq.
Nasdaq: bolsa de valores norte-americana, conhecida por reunir grandes companhias do setor de tecnologia do mundo.
FTSE Developed Europe All Cap: é um índice que representa o desempenho de empresas de grande, média e pequenas capitalização nos mercados desenvolvidos da Europa, incluindo o Reino Unido.
Variação dos principais índices
Em 2023, o Ibovespa caminha para ter o melhor desempenho entre os índices pela primeira vez desde 2019. Até o momento de fechamento da avaliação, o principal índice de ações da bolsa de valores brasileira, havia acumulado alta de 15,6%.
Veja abaixo como ficaram os demais indicadores.

O que mexeu com os mercados e perspectivas para 2024
Brasil em 2023: economia melhor, mas fiscal ainda pesa
Que as perspectivas para a atividade econômica melhoraram, não há dúvida. Não apenas houve uma redução da dívida bruta do governo e níveis recordes do superávit comercial, como também há uma melhora generalizada das expectativas para o país.
Nesse sentido, os juros e a inflação cairam mais do que o esperado, o real sai levemente fortalecido e há uma previsão quase três vezes maior de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) contra as primeiras projeções.

“Já víamos um arrefecimento da inflação no final do ano passado, mas a gente ainda tinha receio de que isso poderia ser artificial, diante das medidas de redução pontual de combustível nos últimos meses de 2022”, disse a diretora de alocações da Blackbird Investimentos, Marina Renosto.
“Mas vimos que a inflação realmente começou a desacelerar e se aproximar um pouco mais da meta, o que contribuiu para que houvesse o início do ciclo de queda de juros no Brasil”, acrescentou.
A meta central de inflação é de 3,25% neste ano, e será considerada formalmente cumprida se o índice oscilar entre 1,75% e 4,75% neste ano. Já a taxa básica de juros (Selic), que começou o ano em 13,75% ao ano, já se encontra atualmente em 12,25% a.a. — e deve terminar o ano em 11,75% a.a.
Além disso, parte dessa melhora ainda veio na esteira de um maior otimismo após a aprovação do novo arcabouço fiscal por parte do governo, que acabou retirando parte dos prêmios que o mercado havia colocado após o período de eleição.
“É um instrumento que ainda vai ser testado. Mas independente das possíveis imperfeições que foram detectadas e descritas [no arcabouço], o mercado se sentiu mais confortável por ter uma diretriz sobre a maneira como [o governo] conduziria a política fiscal”, disse o gestor de multimercados da Neo Investimentos, Mario Schalch.
Segundo Renosto, da Blackbird, essa maior previsibilidade fiscal trazida pelo arcabouço e a percepção de uma inflação mais controlada permitiu com que as curvas futuras de juros começassem a precificar a trajetória de queda das taxas.
Isso influenciou tanto os títulos pré-fixados — que costumam ganhar quando os juros começam a cair — quanto os ativos de renda variável, que também ficam mais atrativos nesse cenário.
Inflação e juros nas economias desenvolvidas
Lá fora, o grande foco de atenção ficou com os Estados Unidos. Por lá, o destaque ficou com a resiliência que a economia norte-americana demonstrou ao longo dos últimos meses.
No terceiro trimestre deste ano, por exemplo, o PIB dos EUA cresceu 5,2%, um ritmo mais acelerado do que o inicialmente estimado (4,9%).
Esse cenário veio mesmo em meio a um cenário de juros elevados. Em apenas 11 reuniões, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) subiu o juro norte-americano de um teto de 0,25% para os atuais 5,50% – e sinalizou que as taxas poderiam permanecer altas no país por um bom tempo.
Nesse cenário, outro ponto que ficou no radar foi a situação fiscal dos Estados Unidos. Segundo o economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz, esse quadro era formado por um endividamento cada vez maior do governo dos EUA e novas emissões de dívidas por parte do Tesouro norte-americano.
“Isso elevou muito as treasuries [títulos do Tesouro dos EUA] de 10 anos, o que puxou todos os ativos de risco para baixo em determinado momento do ano, que foi quando o dólar a R$ 5,20 e a bolsa perdeu valor”, afirmou ele.

“Mas a gente acha que o mercado está terminando o ano numa trajetória um pouco melhor. A expectativa é que o Fed deve encerrar o ciclo de alta dos juros e o risco fiscal nos EUA percebido pelos investidores também diminuiu”, acrescentou Kautz.
O mesmo cenário também era visto em grandes economias da zona do euro. O Banco Central Europeu (BCE) teve que elevar o juro básico da região para a máxima histórica, de 4% ao ano.
Nesse cenário, a estrategista de ações da XP Investimentos, Jennie Li, destaca o bom desempenho das bolsas norte-americanas, puxado principalmente pelas grandes empresas de tecnologia, conhecidas como “big techs”.
“Em parte [essa alta veio impulsionada] pelo tema de inteligência artificial, que ajudou bastante essas companhias. Mas vale dizer que quando olhamos para a média das ações do mercado norte-americano acabou não performando tão bem. Quem realmente carregou as bolsas americanas foram as big techs”, disse.
China e guerras
Ainda no exterior, especialistas também chamam atenção para o atual cenário da economia chinesa. Segundo Kautz, da EQI Asset, o país passa por um “processo de realinhamento dos motores de crescimento”.
“Ela era muito baseada nos setores imobiliário e exportador. E hoje a gente vê que […] esses setores vão diminuir de peso na economia chinesa e outros dois devem ganhar espaço, que é o de tecnologia e o de consumo doméstico”, explicou o economista.
Para o Brasil, isso pode significar uma redução das nossas exportações de minério de ferro para o gigante asiático, que é nosso principal parceiro comercial.
“Nesses setores que vão ocupar os espaços [de crescimento na economia chinesa], o Brasil não tem tanta vantagem competitiva, a não ser prover de novo as commodities necessárias. Assim, podemos precisar investir em minas de lítio e cobalto, por exemplo”, alertou.
Como a crise no setor imobiliário da China pode impactar a economia do Brasil
Além disso, ainda do ponto de vista de commodities, outro fator que acendeu o alerta ao longo deste ano foi a continuidade da guerra entre Ucrânia e Rússia e o surgimento do conflito entre Israel e Hamas, no Oriente Médio.
“Isso deve ter mais influência em cima das commodities, inflação ou algo nesse sentido, o que também pode influenciar nas taxas de juros”, diz Jennie Li, da XP.
O que esperar de 2024?
No Brasil
Para o próximo ano, especialistas reiteram que os pontos de atenção vistos em 2023 devem continuar no radar dos mercados. Por aqui, as atenções devem voltar a recair sobre o quadro fiscal.
“As diretrizes do governo são no sentido de priorizar gastos. Muitos deles têm mérito, mas na medida que se atende o mérito de todos os gastos que se fazem necessários, a consequência é que, para que se cumpram as metas colocadas de déficit primário, será preciso algum tipo de imposto”, disse Schalch, da Neo Investimentos.
Para além da questão fiscal, a perspectiva de continuidade de redução dos juros também joga os holofotes para o Banco Central.
“Estamos olhando já há um tempo para a nova liderança do Banco Central. O Campos Neto [atual presidente da instituição] sai da presidência e entra um indicado pelo atual governo”, diz Renosto, da Blackbird, referindo-se à provável indicação de Gabriel Galípolo à liderança do BC.
“O Galípolo é economista e não devem vir grandes surpresas ou surpresas muito negativas. Mas é algo que vai continuar no radar, porque há a expectativa de que a gente continue com a trajetória de queda de juros de forma saudável”, completa a executiva.
Do ponto de vista de setores presentes na bolsa de valores, a estrategista de ações da XP, Jennie Li, afirma que a orientação principal continua sendo montar uma carteira com um posicionamento mais específico e defensivo.
Ela cita papéis do setor financeiro e associados a commodities como boa alternativa, além de ações do segmento de elétricas, “que acabam sendo mais resilientes e pagando bons dividendos”.
No exterior
O ponto principal citado por especialistas está nos próximos passos na política monetária dos Estados Unidos e da Europa, e em eventuais sinalizações sobre uma desaceleração global.
“Eu olharia um pouco mais atentamente para o mercado internacional. Ações lá fora, a ideia é que haja uma exposição bem pequena. Ao longo prazo, esse mercado deve se valorizar, mas eu não montaria uma posição inteira agora”, opinou Renosto.
Além disso, os especialistas também voltaram a citar eventuais efeitos do cenário econômico na China e dos impactos das guerras. “Ambos os pontos certamente merecem atenção porque podem, em algum momento do tempo, ter influência no cenário e em preço de mercado”, avaliou Schalch, da Neo Investimentos.
“A China é a segunda economia mais relevante do planeta hoje e, um crescimento que vem em velocidade menor pode acabar impactando o mundo como um todo. Já sobre as guerras, é preciso atenção para uma eventual escalada de conflito, que deve trazer reflexos de novas proporções”, completou.

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