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O que aprendi com a crise: transformar conhecimento em produto


Série do G1 entrevista pequenos empresários e conta suas lições para enfrentar a crise provocada pela pandemia. Conheça as estratégias de pequenos empreendedores na crise
Com o faturamento caindo durante a pandemia do coronavírus, alguns empreendedores resolveram compartilhar suas habilidades e conhecimentos em cursos digitais.
A procura por esse tipo de serviço cresceu muito durante a pandemia nas plataformas que hospedam cursos on-line. Nos últimos 12 meses, o volume de novas compras cresceu 161% no Hotmart. Já a HeroSpark teve aumento de 1002% na busca por seus serviços na comparação entre os últimos dois meses de 2019 contra 2020.
O G1 ouviu 2 empresários que começaram a dar aulas on-line durante a pandemia e também os donos de uma startup focada em turismo que se transformou em um marketplace de cursos e eventos.
Entre as principais lições, estão:
Transformar conhecimento em um produto vendável e atrativo para o mundo digital;
Planejamento do conteúdo, sempre pensando no público que quer alcançar;
Aproximação com os alunos e clientes, seja durante transmissões ao vivo ou em grupos no WhatsApp;
Conhecer bem todos os processos que envolvem o curso, além do conteúdo, como inscrição, divulgação e precificação.
O que aprendi com a crise: esta semana, o G1 publica uma série de reportagens sobre as lições aprendidas pelos pequenos empresários durante a crise – e os ensinamentos que podem ser aproveitados por outros empreendedores.
Segunda-feira (10/5): humanização do atendimento
Terça-feira (11/5): transformar conhecimento em produto
Quarta-feira (12/5): mudança de atuação e estrutura enxuta
Quinta-feira (13/5): fortalecimento de marca e conexão com o público
Aula de culinária para gringo (e para brasileiro também!)
Mariana Pelozio é chef e dona de um restaurante de comida brasileira e italiana em São Paulo, o Duas Terezas. Como a maioria dos empresários do setor, ela teve que se adaptar ao abre e fecha do comércio, à reabertura com restrições e à queda brusca no faturamento.
Uma das ideias para superar a crise foi começar a dar aulas de gastronomia pela internet. Ela cadastrou uma experiência no Airbnb em abril de 2020 e se surpreendeu com o resultado: desde então, vem dando uma média de 20 aulas por mês, principalmente para estrangeiros nos Estados Unidos, Canadá e Alemanha.
WhatsApp, Instagram e Facebook: como usar redes sociais em seu negócio
Ela conquistou os gringos ensinando a fazer dois pratos bem brasileiros: baião de dois e brigadeiro.
“As pessoas que buscam esse tipo de curso querem um momento de descontração, então tem que pensar de forma simples, para que os alunos consigam executar a receita, independente do grau de conhecimento em culinária”, explica.
Mariana dá mais dicas para quem quer dar aulas de culinária on-line:
Planejar bem a aula, com um passo a passo, conhecendo bem quem é o seu aluno;
Cuidado com o tempo de aula. As pessoas não estão acostumadas a ficar tanto tempo em pé como os chefs de cozinha. Até 1 hora de duração é o ideal;
Nem todo mundo tem todos os utensílios de cozinha em casa. É legal pensar em uma receita que não precise de tantos objetos. Sem contar que quem vai lavar tudo depois da aula é o cliente!
Mariana Pelozio, dona do restaurante Duas Terezas, passou a dar aulas on-line de culinária durante a pandemia
Arquivo pessoal
Mariana também ensina receitas em eventos corporativos on-line e em ações internas de empresas.
“Com certeza vou continuar com as aulas on-line depois da pandemia. Todo mundo já entendeu os benefícios desse tipo de curso. É mais barato, existe a possibilidade de fazer aula com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo”, afirma Mariana.
Entre uma aula e outra, Mariana continua em busca de soluções para manter o negócio e os funcionários trabalhando de forma segura. Atualmente, entrega planos de refeições frescas e congeladas na casa dos clientes, brunchs aos finais de semana e até criou uma nova marca para vender hambúrguer e atingir um novo público consumidor de delivery.
“Estou trabalhando muito, mas eu amo o que faço. A pandemia me mostrou que não adianta ter um espaço lindo ou um prato premiado. O que interessa é meu propósito de vida, que é gente. Meu restaurante é feito de gente. Eu quero me manter e continuar empregando gente”.
Ensinando a fazer churrasco
Lammonnyel Moraes também decidiu dividir seu conhecimento em aulas on-line depois de ver o faturamento do seu negócio cair 65% com a chegada da pandemia. Ele é dono do Açougue 154, em Cuiabá, que conta com uma butique de carnes e dois restaurantes de churrasco.
Diferente de Mariana, dar aulas não era uma novidade para ele, que já dava cursos, mas de forma presencial em eventos empresariais para o setor de agronegócios.
“Eu já tinha pensado em ir para o digital antes, já tinha um Instagram ativo pra compartilhar as experiências no mundo do churrasco. Quando a pandemia chegou, percebi que era a hora de começar”, conta.
O empreendedor criou um curso on-line onde ensina a fazer o churrasco perfeito. Lançado em janeiro deste ano, em menos de um mês, a ideia reuniu mais de 80 alunos e resultou em um faturamento de R$ 25 mil.
Lammonnyel Moraes está fazendo sucesso com aulas on-line de churrasco durante a pandemia
Arquivo pessoal
“As limitações de ir a um restaurante e o interesse de melhorar a experiência para a família motivaram muita gente a fazer churrasco em casa”, diz Lammonnyel.
Entre os alunos, também estão pequenos empresários, donos de açougues e casas de carnes pelo país, e pessoas que querem empreender e passar a fazer churrasco em domicílio.
“Eu já tinha bastante experiência de cursos presenciais, só precisei me adaptar ao formato on-line. O que mais fazia falta para mim eram as pessoas fazendo perguntas. Por isso, reuni as principais dúvidas para responder no curso”, explica.
As aulas são gravadas e podem ser acessadas quando quiser. Mas Lammonnyel deu um jeito de se aproximar dos alunos: criou um grupo no WhatsApp para que os participantes troquem experiências.
“É um jeito da gente crescer de forma coletiva e colaborativa. Tiramos dúvidas e também criamos um vínculo”, diz.
Em breve, o empresário vai criar novos cursos, dessa vez, de menor duração.
“Meu aprendizado com essa crise é a necessidade de fazer diferente. Não adianta continuar fazendo a mesma coisa e querer outro resultado. Eu tenho 37 funcionários que dependem de mim”, afirma.
Mudança no foco
A Diáspora.Black é uma plataforma de turismo que estimula a valorização da cultura negra. O principal produto da empresa, a venda de viagens e passeios, foi fortemente afetado pela pandemia.
A solução foi desenvolver um novo produto: um marketplace de cursos e eventos on-line com personalidades inspiradoras da cultura negra. Com isso, em 2020, a empresa cresceu 580% em faturamento e teve uma quantidade de clientes 270% maior.
“Esse é um mercado que vem crescendo e nós estamos contribuindo para a formação de profissionais e intelectuais que, até então, nunca tinham usado a internet para promover seu conhecimento”, explica Carlos Humberto Silva, um dos sócios.
Para a mudança no serviço, Carlos e os sócios André Ribeiro, Antonio Pita e Cintia Ramos adaptaram a tecnologia que usavam para ajudar profissionais a se digitalizarem.
Antonio Pita, André Ribeiro, Carlos Humberto Silva e Cintia Ramos são sócios da Diáspora.Black, empresa que cresceu 580% durante a pandemia
Samuel Esteves / Divulgação
Funciona assim: a empresa faz uma curadoria e cobra uma comissão pela hospedagem do curso, por um atendimento personalizado que ajuda em vários detalhes, como formato, duração e precificação, e pela divulgação nas redes sociais.
“A gente ajuda a transformar o conhecimento em produto”, conta Antonio Pita.
Entre o conteúdo oferecido tem aula de filosofia africana, gastronomia tradicional da África, cursos de idiomas, atividades de samba e oficinas sobre grandes intelectuais brasileiros. São 100 atividades, em média, por mês.
Antonio dá dicas para quem quer transformar seu conhecimento em cursos:
Estar confiante e seguro do conhecimento que tem para transformá-lo em um conteúdo que desperte interesse;
Tornar o conteúdo atrativo, com vídeos, música, conteúdos complementares e dinâmica de participação;
Começar a divulgação do curso ou evento com, pelo menos, 40 dias de antecedência em sua rede mais próxima e em grupos que tenham afinidade com o assunto;
Conhecer bem todos os processos que envolvem o curso, não só o conteúdo. Tem que pensar na inscrição, na divulgação e entender como conseguir se diferenciar em cada etapa.
“Os cursos vão continuar no nosso portfólio pós pandemia, vai ser mais uma categoria oferecida. Aprendemos muito nesse processo, não vamos deixar esse legado de lado, vamos continuar investindo nesse segmento”, diz Antonio.

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