IA vai substituir terapeutas? Como a psicanálise interage com a tecnologia

As avaliações iniciais são positivas, mas o nível de vinculação depois de seis meses cai vertiginosamente.
O “faça-você-mesmo” funciona para quase tudo. Satisfazer as demandas do outro é sempre bom. Avaliações positivas e feedbacks são importantes, de vez em quando. Mas um sistema de autossatisfação, que ignora o outro como fonte de conflito, é como oferecer Coca-Cola a quem está com sede: resolve momentaneamente, mas logo a sede volta, ainda mais intensa.
A grande diferença entre uma psicoterapia guiada (online) e uma psicoterapia analógica (interpessoal) é que a primeira reduz a “fricção” presente na segunda. Ou seja, empatia, aceitação, acolhimento e autocompreensão são fundamentais para que a psicoterapia se apresente também como uma situação adversativa, confrontativa e até conflitiva.
A máquina pode simular um suposto saber, gerando efeitos de transferência, demanda ou identificação. Todos já experimentaram a frustração de um dispositivo “animista”, como uma impressora que “decide” não funcionar quando mais precisamos.
Mas ela falha naquilo que estruturalmente nos decepciona: oferecer experiências verdadeiras e autênticas de reconhecimento, seja para algo que ainda não foi reconhecido ou para algo que foi equivocadamente percebido.
Você pode fazer o famoso “espelho, espelho meu” com programas que dizem o que você quer ouvir. Pode até realizar tarefas que antes eram do outro, como fazer o check-in de voo no totem. Mas não consegue deixar de sentir que a máquina está te enganando de forma simples e burra.