fbpx

No SXSW, brasileiras são as melhores dos melhores – 22/03/2024 – Tec

O SXSW é a conferência de inovação mais poderosa e divertida da Terra. O primeiro (e mais óbvio motivo) é o fato de acontecer nos Estados Unidos, berço de quatro entre cinco das maiores empresas de tecnologia do planeta, fazendo com que os palestrantes sejam realmente as pessoas que mais entendem do assunto no mercado. Afinal, são eles próprios quem estão criando as tendências.

Mas para além dos palestrantes, toda a organização é desenhada cuidadosamente de modo a oferecer uma experiência muito significativa para as milhares de pessoas que participam do evento. Para isso, reúnem artistas, intelectuais e especialistas nas áreas mais diversas e interessantes da atualidade, misturando entretenimento com aprendizado, no qual os participantes acabam fazendo grandes amizades.

O que acontece é literalmente a ocupação da cidade de Austin (Texas), onde “trilhas” de informação são oferecidas ao público que vem de todas as partes do mundo.

Vi uma quantidade enorme de palestras, espetáculos de música, comédias de “stand up”, filmes de cinema, premiações e experiências de realidade aumentada, todos de alta qualidade. No entanto, vou eleger as duas performances mais impactantes que presenciei: duas mulheres. Brasileiras, conseguiram impactar mais que todos os outros, em minha opinião.

Bia Ferreira e Yasodara Córdova, a Yaso.

Bia Ferreira canta como quem vai mudar o mundo, romper a membrana que protege os indivíduos em suas bolhas. Seu Instagram é @igrejalesbiteriana e sua letras lembram que nossa herança vem de muitos pretos que foram parar no fundo do mar, que não tiveram chance de nadar ou se salvar porque eram amarrados antes.

Um choque de talento e lucidez, embalados por melodias e ritmos extraordinários.

Já Yaso, uma maga da tecnologia, mostrou que os dados são como uma matéria-prima altamente valorizada e explorada por mercados bilionários, e que nós ainda não sabemos e nem ao menos nos esforçamos para saber para onde eles estão indo.

Ela fala sobre os perigos dos avanços em IA generativa e sobre interfaces que representam a chance de um futuro com mais privacidade e controle sobre nossos dados.

A palestra da brasileira teve uma repercussão tão positiva que a organização do evento abriu um novo horário para que ela pudesse repetir a dose.

A discussão sobre privacidade e propriedade de dados é realmente assunto indispensável. Yaso arrepiou a plateia ao falar de “privacy washing” e abordar o capitalismo de vigilância, que monitora a todos o tempo todo para oferecer produtos.

Mostrou que o simples ato de caminhar com o celular no bolso já faz com que os dados de qualquer pessoa possam ser utilizados para oferecer a elas algum serviço lucrativo. E mesmo que a pessoa não opte pela compra, será feito um leilão dos seus dados. Também falou sobre como funciona o ecossistema de anúncios.

A vigilância acontece de forma diluída no dia a dia sendo justificada pelo crescente medo do crime. É uma indústria gigante que vende para governos e oferece policiamento ostensivo em nome da proteção da população que aceita sem perceber ou questionar.

Assim, as câmeras ficam filmando à distância para “identificar a face das pessoas que teoricamente têm mandado de prisão emitido”. Só que muitas vezes ocorrem falhas e gente inocente acaba atrás das grades. Geralmente gente preta e assim voltamos à genialidade da música de Bia.

Mulheres brasileiras fazendo com que o mundo perceba o que não está sendo dito. Que os algoritmos apenas reproduzem o preconceito com que foram programados. Que a grande questão ética a ser tocada ainda está em sua fase inicial. Mas que não nos enganemos, pois a conta vai chegar!

Visto primeiro na Folha de São Paulo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.