A mensagem subjacente do novo e estimulante livro de David Hajdu, “The Uncanny Muse” (“A musa insólita, em português), pode ser resumida em uma palavra: controle-se.
“O medo de que as máquinas superem os humanos tem raízes profundas e vem desde a ascensão da Era Industrial”, ele nos lembra (várias vezes) enquanto analisa a natureza mutante da tecnologia usada para criar música e arte visual ao longo dos últimos séculos.
Ele justifica esse foco, que evita questões contemporâneas espinhosas como o uso de IA (inteligência artificial) para espalhar desinformação, ao afirmar que “o medo de máquinas fazendo arte é especialmente profundo, por cortar uma das poucas reivindicações da espécie humana a um status especial”.
Começando no final do século 19 com autômatos humanoides que pareciam desenhar ou tocar instrumentos por conta própria —na verdade, eram controlados por indivíduos ocultos—, Hajdu passa de dispositivos mecânicos para equipamentos eletrônicos e digitais, considerando as muitas maneiras como as pessoas têm usado máquinas como ferramentas de criação artística e, nas últimas décadas, programando-as para criar arte de forma independente.
Ele se esforça para refutar a crítica antiga de que a arte feita com máquinas é fria, sem alma e artificial. Ele argumenta que, na verdade, as máquinas possibilitaram novas formas radicais de arte, empoderaram comunidades marginalizadas e serviram como instrumentos de mudança cultural.
Os capítulos sobre música mostram Hajdu em seu melhor, analisando o impacto das novas tecnologias na arte e na sociedade. Os pianos automáticos do início do século 20, as primeiras máquinas a transformar a música de algo que as pessoas faziam para algo que consumiam, popularizaram o gênero distintivamente negro do ragtime: “Máquinas que faziam música sem ninguém no teclado trouxeram a música negra para lares americanos de todas as raças e classes”.
Mais tarde no século, sintetizadores e máquinas de ritmo forjaram os ritmos pulsantes da música house e do hip-hop, gêneros que deram voz a pessoas excluídas da sociedade americana dominante. Hajdu ilustra isso com uma descrição de um clube gay em Manhattan: “No Garage, cerca de 1.400 pessoas por noite podiam dançar juntas, expressando-se em movimentos uníssonos, ao som de batidas persistentes, unidas pela mesma energia e pela força de perseverar.”
Ele cita um frequentador do Garage que confidencia que, ao ouvir seus colegas da General Electric falarem sobre como a tecnologia eletrônica funcionava, “eu queria dizer, ‘Querido, você não sabe! Venha comigo, e eu vou lhe mostrar como é fazer parte de uma máquina'”.
Combinar avaliações amplas de tendências sociais com especificidades humanas é característico do estilo de crítica cultural de Hajdu, evidente em livros anteriores.
Hajdu também prefere retratos resumidos para adicionar cor às suas narrativas históricas densamente detalhadas, e “The Uncanny Muse” não é exceção; ele tempera um texto que se torna cada vez mais complexo à medida que avança para a era dos computadores com esboços de personagens marcantes.
Um exemplo notável é o professor de química Lejaren A. Hiller, que programou o computador Illiac de sua universidade para compor música e, em 1956, provocou uma tempestade de controvérsias com uma apresentação da “The Illiac Suite”. Hajdu, que em livros anteriores lançou um olhar frio sobre a histeria provocada pela cultura pop, acerta ao examinar as declarações exageradas de que computadores como o Illiac nunca poderiam realmente criar arte e brinca: “A polícia da autenticidade invadiu a festa”.
Há uma linha tênue, no entanto, entre desinflar medos exagerados e descartar preocupações genuínas. À medida que o autor avança para a música e a arte visual geradas por computador, o desejo de Hajdu de apresentar uma imagem positiva deixa uma lacuna enorme no que é, de outra forma, um resumo lúcido e instrutivo dos avanços em tecnologia e programação que levaram à IA, o termo cunhado pelo professor de Dartmouth John McCarthy para descrever o potencial das máquinas de aprender e “pensar como seres humanos”.
Ele dá relatos vívidos de esforços de pioneiros, como o artista britânico Harold Cohen, que escreveu um programa de computador capaz de gerar arte por conta própria com base nas informações que ele inseriu, e o compositor e músico George Lewis colaborando com um computador programado para improvisar com ele em tempo real. Ele inclui especulações interessantes sobre a arte computacional ser capaz de comunicar “o que significa ser uma máquina”, assim como a arte humana comunica o que significa ser humano.
O buraco enorme é a análise das implicações do que Hajdu descreve de forma despreocupada como “o repositório gigantesco de imagens e sons que usuários da web e instituições, públicas e privadas, arquivaram na internet e despejaram no armazenamento em nuvem ao longo dos anos”.
Essa é a base para o “aprendizado profundo” de que os computadores requerem para criar arte. Ele escreve uma frase sobre uma ação coletiva por escritores por violação de direitos autorais. Essa é a única menção que reconhece as batalhas sobre a falta de compensação para indivíduos cujas criações fazem parte das montanhas de dados que permitem que programas como o ChatGPT gerem receita para empresas como a OpenAI (uma organização controversa que Hajdu trata com neutralidade estudada).
Texto não é o tema principal aqui, mas música e arte visual geradas por computador também respondem a comandos de texto e dependem de dados que podem ser protegidos por direitos autorais.
Hajdu pode pensar, com alguma justificativa, que esse é um problema grande e complicado demais para ser abordado em um livro que visa abordar de forma geral as interações humano-máquina na arte ao longo dos séculos. Recusar-se a abordá-lo torna seu argumento de que não temos nada a temer da arte gerada por computador menos persuasivo. No entanto, “The Uncanny Muse” oferece muito material para reflexão e bastante espaço para debate.