Internet, 30: mídia social deixaram de ser rede, diz Orkut – 08/05/2025 – Tec

Quando o então engenheiro do Google Orkut Büyükkökten resolveu fundar a rede social de próprio nome, a maioria dos chamados internautas se comunicava por email, em programas de mensagem como o Messenger e o ICQ ou em chats temáticos como o mIRC e o Bate-Papo UOL.

Um turco radicado na Alemanha que se graduou na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, Büyükkökten disse à Folha que “queria criar uma rede online para ajudar as pessoas a fazer amigos a partir dos amigos dos amigos”. Aos 28, ele tirou o plano do papel em janeiro de 2004, quando a internet comercial no Brasil se encaminhava para o nono aniversário (neste ano, completa 30 anos).

Além dos amigos dos amigos, o slogan da plataforma fazia menção às comunidades, que também reuniam desconhecidos com interesses afins para discutir. Os usuários podiam deixar recados uns para os outros e guardar um número limitado de fotografias, como em um fotolog (um blog de fotografias).

Essa receita garantiu uma explosão de popularidade à plataforma de Büyükkökten e foi a maior rede social do mundo até 2011, quando o Facebook assumiu a liderança. Os brasileiros eram a maioria no site de 100 milhões de usuários, somando 30 milhões de pessoas.

O engenheiro turco recorda com nostalgia do sucesso no país, que visitou neste ano para participar de um evento de tecnologia em Porto Alegre. “Com o Brasil, eu acho que a cultura é similar à que eu cresci, as pessoas são muito amigáveis, apaixonadas e há tanta comunidade, e todos esses valores estavam refletidos no Orkut.”

Para ele, esse modelo de rede social chegou ao fim porque as plataformas não conectam mais as pessoas. A teia de contatos que interligava as pessoas fora, ao longo dos últimos anos, foi substituída pela mediação de algoritmos feitos para eleger o que chama atenção do público. “Nos primeiros dias de Orkut, chamávamos de rede social e agora chamamos de mídia social.”

Por isso, a dinâmica de circulação de conteúdo passou a se parecer mais com a de uma transmissão em massa, como a televisão e o rádio. “Agora, nós não lemos jornalistas ou assistimos às notícias, e sim ouvimos influenciadores, que são pessoas que têm muitos seguidores”, afirma o pioneiro das redes sociais.

Apenas são ouvidos e vistos, avalia Büyükkökten, os grandes perfis, e a pressão para crescer faz as pessoas publicarem conteúdos exagerados. “O que cria mais renda? Mais engajamento, mais tempo gasto na plataforma, viralização, essas são coisas que a empresa pode medir e planejar”, acrescenta.

“Eles estão transformando nossa atenção em narcisismo, nossa amizade em moeda, e a intimidade em um teatro de espetáculos”, acrescenta o pioneiro das redes sociais.

A rede social Orkut, assim como as plataformas de hoje, tinha no marketing digital a principal fonte de renda —o site tinha banners e as marcas mobilizavam campanhas dentro da rede. Ainda não havia, no entanto, a dinâmica de publicações impulsionadas que ganhou mercado com o Facebook.

O cearense Afonso Alcântara começou a carreira, há quase 20 anos, fazendo campanhas para o Orkut. Hoje, ele passou a oferecer uma promessa de alternativa da atual dinâmica das redes sociais ao fundar Poosting —uma plataforma brasileira que soma traços do Orkut, do X (ex-Twitter) e do Instagram.

A solução de Alcântara, entretanto, não é regressar ao grafo social (a teia de contatos) ou acabar com os influenciadores. Ele quer equalizar a circulação de todas as publicações. Com 1,5 milhão de usuários cadastrados, o Poosting torna cada publicação em um disparo que chega a todos os usuários.

“Se você publicou agora, quem estiver online e chegar a tempo no feed cronológico vai ver a sua publicação sem a necessidade de receber um monte de likes na publicação”, explica.

Parece bagunça, mas há regras: as publicações, ordenadas cronologicamente, desaparecem depois de 24 horas. O número bem menor de pessoas online também evita a sobrecarga na linha do tempo —de acordo com Alcântara 15% das 1,5 milhão de contas frequentam, de fato, a plataforma.

Ainda segundo Alcântara, essa dinâmica subverte a autoridade do influenciador. “Já houve casos de influencers que entraram na plataforma e não se deram tão bem porque o negócio deles era ali uma foto na praia, aquela coisa toda, mas o forte da Poosting é a interação, a comunidade”, afirma.

O site oferece comunidades, aos moldes do Orkut —chats temáticos nos quais as pessoas podem debater. Há casos em que o nome é igual ao de uma antiga comunidade no Orkut, como em “00h01 e a insônia”.

A startup, porém, manteve a dinâmica de seguidores e de outros traços das redes sociais contemporâneas. A plataforma dá a opção de se tornar aliado (como se fosse um seguidor) de outras contas e disponibiliza uma linha do tempo apenas com as publicações dos aliados.

No médio prazo, caso o feed dos aliados ganhe popularidade, a medida pode separar as contas com muito alcance das contas com baixo alcance, apesar da proposta de igualdade.

Além disso, desde três de abril o site passou a aceitar pagamentos para impulsionar a circulação de publicações e ficou ainda mais parecido com seus pares como X, Facebook, Instagram, TikTok entre outros. Tal qual as outras plataformas, o Poosting nasceu com investimento de risco e precisa se tornar sustentável financeiramente no futuro.

Para Büyükkökten, conectar o valor da plataforma ao engajamento é uma receita fadada ao fracasso. “O que cria mais engajamento é o ódio, a raiva e o conteúdo polarizado, e todos os algoritmos são otimizados para engajamento.”

A aposta dele é voltar às interações entre amigos de amigos, ele tem um projeto de uma nova plataforma, mas disse que ainda não há nomes para divulgar.

Visto primeiro na Folha de São Paulo

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