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Home office vai acabar? Por que cada vez mais empresas estão voltando ao trabalho presencial

Home office vai acabar? Por que cada vez mais empresas estão voltando ao trabalho presencial


Problemas com produtividade, integração de equipes e expansão de empresas explicam o fenômeno. Especialistas, contudo, não acreditam que funcionários sejam os únicos responsáveis pelas questões. Home office em extinção?
A cada sete semanas de home office, uma semana de atividades presenciais no escritório. Esse é o modelo de trabalho adotado pelo Nubank, e que deve se perpetuar ao longo de 2025.
“É uma forma de atrair talentos dispersos, novas gerações e ter vantagem competitiva, mas sempre avaliamos a produtividade para garantir que estamos na melhor direção”, afirma Suzana Kubric, diretora de recursos humanos.
O regime de trabalho tem dado bons frutos. No Glassdoor, um site onde funcionários avaliam empresas, o Nubank tem uma média de 4,4 estrelas, destacando-se entre outras instituições financeiras renomadas.
⚠️ Mas essa não é a realidade de muitas empresas, que decidiram proibir o trabalho remoto ou reduzir drasticamente os dias de home office.
O exemplo mais marcante é o da Amazon, que determinou que seus funcionários devem voltar ao presencial neste ano. Em carta aos funcionários, Andy Jassy, CEO da empresa, reforçou que aqueles que não estiverem satisfeitos com a medida podem procurar outra oportunidade de trabalho.
Outra big tech, a Dell, anunciou que colaboradores em trabalho remoto não serão considerados para promoções e nem poderão se candidatar a novas posições, como uma forma de forçar o retorno ao presencial.
O g1 procurou as empresas, mas nenhuma delas quis dar entrevista sobre o assunto.
📉 O declínio do trabalho remoto já é observado em números. Um levantamento da consultoria imobiliária JLL mostra que a taxa de vacância — percentual de imóveis comerciais disponíveis para locação — veio diminuindo gradativamente em 2024, voltando a patamares cada vez mais próximos ao pré-pandemia.
Em São Paulo, o 4º trimestre de 2024 registrou uma queda de 2,6 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior. A pesquisa também mostra que, apesar de alto volume de novo estoque de imóveis, o baixo número de devoluções garantiu queda na vacância.
Por outro lado, o preço médio dos aluguéis aumentou. Na capital paulista, os valores em regiões mais valorizadas chegam a R$ 311 por metro quadrado. Isso representa aproximadamente R$ 46 mil para uma sala comercial de 150 m².
➡️ O “êxodo remoto” também é notado em plataformas de recrutamento, como a Gupy. A empresa registra cada vez menos oportunidades de trabalho remoto, enquanto a oferta de vagas presenciais ou híbridas está em ascensão.
As vagas híbridas, que até 2023 eram insignificantes na estatística, superaram o número de vagas remotas no ano passado, transformando radicalmente o cenário do mercado de trabalho.
🤔 A pergunta que fica é: será que estamos testemunhando o fim do home office? Abaixo, o g1 conversou com especialistas e empresas para responder às seguintes questões:
As vagas remotas estão em extinção?
O que dizem as empresas que abandonaram o 100% remoto?
Quais são os desafios enfrentados no retorno ao trabalho presencial?
O modelo híbrido é uma tendência ou uma fase para o retorno total ao presencial?
Desocupação de prédios comerciais registra queda gradual em São Paulo e Rio de Janeiro
Mario Furtado/ D’OM
Home office em extinção
O teletrabalho teve um crescimento excepcional durante a pandemia de Covid-19, em 2020. Além de manter as atividades econômicas em meio ao distanciamento social, as empresas observaram reduções nos custos com aluguel, energia elétrica e internet.
Funcionários que passaram a trabalhar de casa relataram uma melhoria na qualidade de vida, economizando tempo e dinheiro ao evitar deslocamentos. Por se tratarem de empregos qualificados, uma pesquisa do IBGE mostrou que essas pessoas ganhavam cerca de 2,7% a mais do que os que trabalhavam presencialmente.
De lá para cá, a visão de algumas empresas sobre o home office mudou. A insegurança quanto à produtividade é o principal motivo para algumas empresas abandonarem o teletrabalho, aponta Eliane Ramos, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH).
Um levantamento realizado pela Mercer Brasil revelou as impressões dos gestores sobre o sistema remoto. Dos 365 profissionais de RH entrevistados:
🤷 76% citam ter insegurança sobre a produtividade no sistema remoto;
💻 66% mencionam excesso de reuniões.
👀 51% têm dificuldade em acompanhar iniciantes.
👨‍💼 61% apontam a liderança como um desafio.
🏢 52% consideram a cultura organizacional um impeditivo.
Apesar disso, a presidente da ABRH ressalta que os problemas apontados têm origem em outras falhas dentro das organizações, como:
⚠️ Planejamento falho por parte da liderança: falta de uma estratégia bem definida pode comprometer a eficiência do trabalho remoto;
⌚ Falta de maturidade por parte dos funcionários: os colaboradores podem não estar preparados para gerenciar seu tempo e tarefas de forma autônoma;
🙋‍♀️️ Perfil de negócio que depende muito da integração entre funcionários: empresas que necessitam de uma colaboração intensa e constante entre equipes podem encontrar desafios no modelo remoto.
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O que dizem as empresas que abandonaram o 100% remoto?
Na D’OM, uma agência de publicidade que atende marcas como Continental Pneus e Pastilhas Valda, o regime 100% remoto foi substituído por uma política singular.
“Nas manhãs de segunda à quinta, trabalhamos de casa e nos reunimos presencialmente no período da tarde. Às sextas, é 100% remoto”, conta Mario D’Andrea, CEO e sócio fundador.
“Acreditamos na integração porque trabalhamos com ideias e elas surgem de conversas. Não é com hora marcada. A qualidade e produtividade dos nossos serviços melhoraram infinitamente”.
Na agência D’OM, a adoção do trabalho híbrido resultou em produtividade e integração
Mario Furtado/ D’OM
O escritório da agência fica na Vila Olímpia, um dos bairros mais caros de São Paulo, cujo metro quadrado custa, em média, R$ 99,95 — cerca de R$ 19,9 mil em uma sala comercial de 200 m². D’Andrea afirma, porém, que o custo-benefício se sobressai em relação aos gastos para manter o ponto físico.
Mesmo nas empresas em que o modelo remoto ainda predomina, a produtividade e a integração de equipes estão no centro das discussões. No Nubank, o principal desafio é construir relações de confiança entre colaboradores e integrar novos funcionários, que quase não se veem.
“Vemos muito valor no trabalho presencial. Por isso, estimulamos o ‘Voluntary Booking’, que é a reserva voluntária de espaços no escritório. E estamos trazendo as lideranças de forma mais frequente nos escritórios”, explica Kubric.
A diretora ressalta que o retorno ao sistema presencial não está completamente descartado pela empresa, que realiza constantes análises para saber se o atual sistema tem apresentado resultados positivos.
“O que falamos aos funcionários é que, se isso acontecer, será de forma gradual”, explica.
🕵️‍♀️ O aumento da ocupação de escritórios também é explicado pela chegada de empresas estrangeiras e a expansão de empreendimentos, que precisam de espaços maiores para comportar novos funcionários, explica Rafael Calvo, diretor da JLL.
É o caso da agência de D’Andrea. Antes da mudança para o novo prédio, a empresa tinha um ponto físico menor e com uma localização inferior. “Nos últimos dois anos, passamos de três pessoas para 20”, afirma o publicitário.
O mesmo aconteceu na Conta Simples, plataforma de gestão e cartões corporativos. Após o aporte de mais de R$ 200 milhões recebido em janeiro de 2024, a empresa decidiu partir para o um novo escritório.
“Momentos no escritório favorecem conexões e reforçam o senso de pertencimento. São muito importantes para a construção de cultura, alguns encontros são muito mais produtivos no presencial”, Rodrigo Tognini, CEO e cofundador da Conta Simples.
Novo escritório da Conta Simples fica no Brooklin, um dos bairros mais valorizados de São Paulo
Gladstone Campos/ Conta Simples
Quais são os desafios enfrentados no retorno ao trabalho presencial?
Uma pesquisa elaborada pela KPMG, empresa global de auditoria e consultoria, feita com 1,3 mil diretores de empresas ao redor do mundo, apontou que 64% acreditam que o retorno aos escritórios será uma realidade em até três anos.
💣 Mas a decisão de retomar as atividades de forma presencial não é simples. Ondas de demissão e resistência por parte de funcionários insatisfeitos são alguns dos prováveis desafios, aponta Eliane Ramos, da ABRH.
“Pode haver perda de talentos, daqueles que reconhecem seu valor e buscam oportunidades flexíveis. É possível ainda provocar o afastamento de profissionais da geração Z, que também valorizam a flexibilidade”, diz.
Outro problema frequente é ambiente corporativo, muitas vezes ultrapassado e desinteressante. A Amazon, por exemplo, percebeu que seus escritórios não estavam preparados para acomodar a todos os funcionários. A situação levou a big tech a adiar o retorno em vários escritórios nos EUA.
Os funcionários que já retornaram enfrentam disputa por vagas de estacionamento, falta de lugares para sentar e a necessidade de salas privadas para videochamadas.
Não é à toa que empresas em transição do remoto ao presencial estão desenvolvendo estratégias para lidar com esses desafios.
Na pesquisa da KPMG, 87% dos entrevistados disseram estar dispostos a recompensar os funcionários que demonstram disposição para voltar ao sistema presencial.
Essas recompensas não se limitam a reajustes salariais. Proporcionar um ambiente corporativo atrativo e confortável tem sido um método adotado por empresas que passam pela transição.
É o caso da agência D’OM, que além da mudança de prédio, investiu em uma reforma para tornar o ambiente de trabalho mais atrativo e incentivar a presença dos funcionários, que precisam ter uma frequência mínima de dois dias por semana.
Insegurança em relação à produtividade é um dos principais empecilhos para o teletrabalho, aponta Mercer Brasil
Mario Furtado/ D’OM
Ascensão do sistema híbrido
Apesar de abandonarem o trabalho 100% remoto, as empresas entrevistadas pelo g1 aderiram ao sistema híbrido. A popularidade desse modelo, que divide a jornada entre trabalhar de casa e ir ao escritório, é evidente.
Nas ofertas de emprego publicadas na Gupy, a modalidade representou 11% das contratações no ano passado, o maior pico desde a criação da plataforma.
Para D’Andrea, o trabalho híbrido promove o bem-estar dos funcionários sem abrir mão da produtividade.
“Nossa dinâmica precisa desse contato humano. Lógico que existem áreas que o remoto funciona, mas vejo que o híbrido é o melhor para nós e veio para ficar. Todo mundo sai feliz”, completa.
Já para Tognini, CEO da Conta Simples, o modelo híbrido é o melhor dos dois mundos, pois, ao estar em casa, o colaborador se beneficia da gestão de tempo e da flexibilidade ao equilibrar demandas pessoais e profissionais. Por outro lado, estar no escritório, é importante para a criação de cultura e engajamento.
🚀 O modelo híbrido pode ser considerado uma estrela em ascensão, despontando como a grande tendência para 2025, afirma Guilherme Dias, CMO da Gupy.
“O formato híbrido tem ganhado cada vez mais espaço. Com a tendência de flexibilidade em alta, empresas que souberem equilibrar os diferentes modelos de trabalho estarão melhor preparadas para atrair e reter talentos, além de otimizar seus custos e melhorar a eficiência”, conclui.
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