Em uma das imagens que circularam nas redes sociais na última semana, uma citação atribuída a Elon Musk dizia: “mentira se combate com a verdade, não com a censura”. Ironicamente após pesquisar na internet e consultar as plataformas de modelo de linguagem não foi possível encontrar o verdadeiro autor da frase. Nesse caso, portanto, caso seja mentira, terá prevalecido.
Essa é a dificuldade de se enfrentar a desinformação e que observamos constantemente nos mais de 70 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram analisados pela Palver. A informação circula rapidamente entre os grupos e um único tema dificilmente fica em destaque mais do que dois ou três dias.
Os versos da música “A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana” de Titãs parecem antecipar o que seria a volatilidade daquilo que é relevante nos dias de hoje. Nesse contexto, as pessoas não têm tempo de pesquisar e validar as informações recebidas constantemente em seus smartphones.
No monitoramento da Palver, é possível perceber que as agências de checagem têm exercido uma função importante. Principalmente quando publicam seus conteúdos utilizando imagens simples e assertivas sobre determinado tópico. No WhatsApp e Telegram, usuários utilizam prints retirados das redes sociais das agências para responder às desinformações que circulam nos grupos.
No entanto, o próprio esforço dos usuários em ir procurar respostas sobre algum tema em questão, pegar a imagem e enviar nos grupos, não corresponde ao comportamento padrão observado. Na maioria das vezes, ao receber uma informação falsa ou enganosa, ainda mais se reafirma uma opinião já existente, tende a ser encaminhada pelos usuários.
Quando alguém envia imagens de agências de checagem “desmentindo” outro usuário, geralmente há silêncio no grupo e o tema de discussão se altera ou há um enfrentamento tentando colocar em xeque a credibilidade das checadoras. Nessa linha, há uma série de mensagens dizendo que as agências são ligadas ao Partido dos Trabalhadores (PT), ou ainda que só checam a direita, e não a esquerda. Em tom de denúncia, uma das mensagens que circulou apontava que agências de checagem são financiadas pelas big techs.
Há, portanto, um tipo de comportamento nas redes sociais, principalmente nos grupos públicos de WhatsApp e Telegram, que torna difícil o combate à desinformação, pois isso requer um esforço considerável de um dos membros do grupo. Além disso, como se observa frequentemente nos grupos analisados, aquele que traz informações que contrapõem algum conteúdo alinhado à ideologia dos membros corre alto risco de ser expulso dos grupos por ser considerado um infiltrado ou traidor.
Ainda no tema da liberdade de expressão discutida nos grupos, na última quinta-feira (25), a Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos solicitou à plataforma Rumble que entregue as decisões judiciais emitidas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) com relação à restrição de contas e de conteúdo. A solicitação ocorre após pedido similar feito ao X nas semanas anteriores, que alimentou os grupos de direita após o vazamento de documentos contendo decisões sigilosas do STF.
No WhatsApp e Telegram o tema movimentou os grupos, principalmente de direita, que voltaram a atacar o ministro Alexandre de Moraes. O tom adotado nas mensagens é de que há algo bombástico por vir e que isso pode alterar completamente a condução da política e da Justiça no Brasil.
Uma das mensagens aponta que o CEO do Rumble já havia denunciado e ninguém ouviu e “por isso tem que ser bilionário”, fazendo referência a Elon Musk. Ao que parece, parte dos usuários do WhatsApp e Telegram leva ao pé da letra outro verso da música de Titãs: “um idiota em inglês, se é idiota é bem menos que nós, um idiota em inglês, é bem melhor do que eu e vocês”.