Fundador do Google desdenhou do cérebro, diz Nicolelis: ‘é lento, né?’
O cérebro é analógico, não existe a distinção entre hardware e software, é tudo misturado, porque computa com a estrutura
Miguel Nicolelis
Médico e neurocientista, Nicolelis é professor emérito da Universidade de Duke e fundador do Instituto Nicolelis de Estudos Avançados do Cérebro.
Em 2024, ele comemorou duplamente: pelos 25 anos do artigo pioneiro para a neurociência mundial, assinado com John Chapin; e pelos 10 anos do exoesqueleto, criado por ele, usado por Juliano Pinto, jovem paralégico, para dar o pontapé inicial da Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil.
Para ilustrar como é antiga a tentativa de associar o cérebro humano a computadores, Nicolelis relembra que nos anos 1960 a Marinha dos Estados Unidos pagou uma fortuna para cientistas contratados para criar algo que seria um “cérebro eletrônico”.
Ele mesmo já foi confrontado com a ideia. Nicolelis conta que, em 2005, foi convidado para dar uma palestra para uma audiência seleta sobre interface humano-máquina. Para surpresa dele, entraram na sala Larry Page e Sergey Brin, os fundadores do Google.
Após explicar o funcionamento do cérebro, Nicolelis ouviu de Page: “mas só processa 5 bits por segundo? É lento, né?”. Na época, era essa a medida da capacidade de processamento do cérebro. O neurocientista retrucou: “É lento, mas funciona”.