Algo não vai bem no mercado de streaming. Em 2023 todos os recordes foram batidos em termos de acesso a plataformas piratas de conteúdos de vídeo, incluindo séries, filmes, animes etc. O número total de visitas chegou a 141 bilhões durante o ano, com picos de 386 milhões de visitas diárias.
Isso representa um crescimento de 12% com relação ao recorde anterior de acessos piratas, registrado em 2019 antes de a pandemia começar. Os dados foram medidos pela consultoria Kearney em parceria com a organização antipirataria inglesa MUSO.
Os três países que lideram o consumo pirata de vídeo são os Estados Unidos, a Índia e a Rússia. Somados, representam 30% de todos os acessos a plataformas ilegais. O Brasil, por sua vez, está do outro lado da equação. O país ficou no top 10 dos países com menor acesso medido a plataformas piratas, próximo ao Japão, país que é notório por seus baixos índices históricos de pirataria.
A posição brasileira reflete a distribuição global da pirataria de vídeo. O continente mais pirata do planeta hoje é a Europa, seguida de perto da Ásia (com destaque para a Índia). Em último lugar aparece a América do Sul, com as menores taxas de acesso a plataformas ilegais de vídeo.
Obviamente, isso não significa que não existe pirataria de streaming no Brasil. Ela existe, mas é consideravelmente menor comparada aos níveis encontrados em outros países, incluindo os EUA e a própria Inglaterra.
De todo modo, o crescimento agregado da pirataria traz reflexões. Estamos vivendo o fenômeno chamado de “fadiga das assinaturas” (“subscription fatigue”). A proliferação de serviços de streaming, cada um com seu plano de assinatura próprio, tem gerado frustração entre os consumidores. Muitos não têm condições de pagar por todos os serviços ou pretendem reduzir o número atual de assinaturas, como mostrou pesquisa da Civic Science.
Vale notar que de 2000 a 2010 o mundo viu um crescimento exacerbado da pirataria. Na época, a razão era a ausência de alternativas oferecendo preço competitivo e catálogo abrangente para acesso digital. A indústria insistia em vender CDs e DVDs, atrasando o surgimento de plataformas digitais com conteúdo legal e preços acessíveis.
Na música a situação mudou com o surgimento de serviços como Spotify e outros, que mediante uma assinatura mensal permitem acessar praticamente todo o conteúdo musical jamais criado. No vídeo, no entanto, não houve o surgimento de agregador universal de conteúdo com preço acessível e catálogo amplo. Ao contrário, quem optou por trocar a assinatura da TV a cabo pelo streaming por razão de preço hoje corre o risco de ter de pagar mais do que pagava antes para acessar dois ou três serviços simultaneamente. E provavelmente está insatisfeito.
Esse desalinhamento da oferta com o consumo abre espaço para a pirataria. Na maior parte dos casos ela não é causada porque os consumidores são desonestos, como mostramos no estudo “Pirataria de Mídia nos Países Emergentes”. A questão é econômica. Os serviços oferecidos falham em preço ou em catálogo. Seja por oferecer produtos incompatíveis com a renda dos consumidores ou catálogos que não representam o que querem consumir. É nesse lugar que o pirata aparece.
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