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Esquerda e direita divulgam fake news sobre o agro – 24/02/2025 – Encaminhado com Frequência

A recente suspensão temporária das linhas de crédito rural do Plano Safra 2024/2025 transformou-se no novo ponto de discórdia entre defensores de posições de direita e de esquerda. Em paralelo, setores da direita à esquerda enxergam na paralisação uma oportunidade para impulsionar narrativas falsas em grupos de mensageria.

Nos últimos dias, o ministro Fernando Haddad anunciou que irá liberar R$ 4 bilhões em crédito extraordinário para retomar o financiamento do Plano Safra, uma iniciativa que procura amenizar possíveis prejuízos à produção agrícola.

Entretanto, antes mesmo de o anúncio ocorrer, mensagens sobre o assunto já circulavam em grupos públicos de WhatsApp e Telegram. A plataforma Palver, que monitora mais de 100 mil desses grupos, detectou introdução de novas linhas narrativas que se concentram em dois núcleos dominantes e antagônicos.

De um lado, grupos bolsonaristas interpretam a paralisação do Plano Safra como parte de uma conspiração deliberada do governo Lula para “sabotar” o agronegócio. Mensagens inflamadas sustentam que a intenção seria desestabilizar a cadeia de produção de grãos, proteínas animais e outros produtos essenciais para a cesta básica, alimentando um cenário de inflação proposital que “desviaria a culpa” para os próprios produtores rurais.

Essas mensagens omitem as razões orçamentárias que culminaram na suspensão dos repasses e ignoram fatores externos, como a alta da taxa Selic e o cenário global de escassez e encarecimento de insumos. Essa linha narrativa se desdobra na ideia de que o governo busca produzir “fome planejada” para criar uma dependência da população em políticas assistencialistas e fomenta teorias de conspiração que fazem paralelo com a Venezuela dizendo que o governo busca seguir um modelo de “controle social pela fome”.

Na outra ponta, militantes de esquerda compartilham vídeos que mostram tomate, cebola e diversos alimentos sendo descartados em aterros ou estradas de terra, afirmando que o agronegócio prefere jogar fora os produtos a vendê-los por valores mais acessíveis. Segundo essa narrativa, a destruição propositada de alimentos seria um mecanismo de especulação, cujo propósito é manter os preços altos e pressionar o governo a conceder incentivos fiscais ou créditos subsidiados.

Verificações conduzidas por agências independentes revelam que muitos desses vídeos são antigos, capturados em contextos de excedente de safra ou problemas logísticos, e não refletem o cenário atual. Ainda assim, as imagens se espalham rapidamente, acompanhadas por discursos que acusam produtores de alimentar a inflação por motivos políticos.

Esse cenário evidencia como a divulgação de informações falsas vem se tornando uma das principais ferramentas de mobilização política. De um lado, difundir a ideia de “fome planejada”, grupos bolsonaristas criam o sentimento de medo e reforçam a ideia de que a inflação dos alimentos resulta da agenda do Planalto. De outro, a esquerda divulga a ideia de que agricultores buscam influenciar a dinâmica de preços a partir de interesses políticos.

O resultado é um debate desconexo que ocorre simultaneamente em realidades paralelas. Pouco se discute sobre as causas e problemas reais a serem enfrentados para mitigar a inflação nos alimentos. A desinformação, portanto, encontra terreno fértil para prosperar, estimulando a divisão entre “nós” e “eles” e impedindo que se avance em soluções reais para o problema dos preços dos alimentos.

Muito além de conspirar ou culpar o outro lado, enfrentar a inflação no prato dos brasileiros exige um esforço conjunto que passe pela transparência e por políticas de apoio ao produtor que não se confundam com vantagens arbitrárias. Afinal, o verdadeiro inimigo não é este ou aquele grupo, mas a confusão informacional que impede a busca de soluções concretas para o bem-estar de toda a população.


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Visto primeiro na Folha de São Paulo

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