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Empreendedorismo na crise: casal abre loja física no Rio e vê venda de doces decolar em apenas 1 mês


Crise provocada pela pandemia fez o casal temer investir no crescimento do negócio familiar que começou informal na cozinha de casa. Demissão, que aumentaria vulnerabilidade diante do cenário, foi oportunidade que faltava. Casal vê oportunidade na crise e abre novo negócio no Rio no auge da pandemia
Fazer da crise a oportunidade. Esta máxima foi levada à risca por um casal carioca que decidiu abrir uma loja de doces na Zona Norte do Rio de Janeiro em pleno auge da pandemia. Em apenas um mês, comemora ter quadruplicado as vendas das guloseimas antes produzidas na cozinha de casa.
“Foi a melhor coisa que a gente fez”, garante Isabela Campos Teixeira, que comanda, junto ao marido Luiz Henrique Teixeira, a Bella Doceria, instalada no Méier.
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O comércio carioca estava parcialmente proibido de funcionar quando o casal alugou a loja, em março deste ano, momento em que o país enfrentava a maior escalada da Covid-19 desde o começo da crise sanitária. As portas foram abertas em abril, então apenas para retirada dos produtos no balcão.
“A gente teve muito medo, mas era a única chance que a gente tinha. Se não fosse nesse momento, talvez não houvesse outro. E parece que fizemos a aposta certa”, enfatizou Luiz.
Isabela e Luiz comemoram o crescimento do negócio que surgiu na cozinha de casa para complementar renda
Arquivo Pessoal
Luiz trabalhava como taxista e viu a renda cair muito diante da pandemia. Já Isabela era securitária e foi demitida em janeiro, após quase 11 anos de trabalho na mesma empresa. O dinheiro que recebeu da rescisão virou capital para fazer crescer o negócio, que começou informal havia pouco mais de dois anos.
O começo – história familiar
Isabela contou que sempre fez doces em casa para a família e aceitava pequenas encomendas. Diante da queda de renda de Luiz no táxi desde a entrada dos aplicativos de transportes, ela começou a fazer brownies para ele revender aos passageiros. O retorno dos clientes era bom, mas o taxista resistia em fazer dos doces a atividade profissional do casal.
“Minha mãe sustentou a nossa família vendendo doces de porta em porta. Ela trabalhava muito e ganhava pouco. Por isso, eu sempre fui contra reviver essa história”, contou Luiz.
A virada de chave aconteceu em 2019, quando o casal fechou parceria com uma hamburgueria, para a qual produzia torta de limão. A empreitada deu certo, e o casal passou a atender dez lojas da rede de sanduíches. Para isso, se registrou como Microempreendedor Individual (MEI) em julho daquele ano.
“Nossa produção era totalmente caseira. Rapidamente, apareceu outra hamburgueria e a gente começou a produzir brownies para ela. Nossa demanda aumentou muito e a gente virava madrugada na cozinha, mantendo nossos trabalhos de dia”, destacou Isabela.
Necessidade X oportunidade
Quando começou a pandemia e a renda do táxi despencou ainda mais, o casal decidiu aumentar a produção e ingressar nas plataformas online de delivery. Com uma média entre 20 e 30 pedidos por dia, os dois já não conseguiam dar conta de tudo sozinhos.
Entrou em cena a irmã de Isabela, Roberta Campos, que pediu demissão do emprego para trabalhar de forma auxiliar ao casal. Pouco depois, chamaram uma prima para também ajudar na cozinha.
“Eu nunca achei que as pessoas comprassem tanto doce por delivery. Então, a gente viu que valeria a pena investir e aumentar o negócio. A minha demissão foi o que faltava para tomar essa decisão”, contou Isabela.
Antes de abrir loja, casal investiu em ações de marketing para fortalecer a marca de seus doces caseiros
Divulgação/Bella Doceria
O primeiro investimento, porém, foi feito em setembro do ano passado, antes da demissão de Isabela, quando o casal contratou uma empresa especializada em marketing digital que os ajudou a ganhar destaque nas redes sociais. Foi assim que a Bella Doceria começou a se fortalecer no delivery.
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Caminhando pelas ruas do bairro, Luiz viu uma loja sendo reformada e descobriu que ela seria entregue ao dono. “Era uma hamburgueria que estava fechando em uma rua que tem outros comércios de alimentos. Conversei com o dono e falei do meu interesse no espaço e em março ele liberou ela para a gente”, contou Luiz.
Pequena loja de doces foi aberta no Méier, Zona Norte do Rio, no sistema de retirada no balcão
Arquivo Pessoal
A experiência adquirida com a produção informal somada à clientela já formada com o atendimento via delivery serviu de pilar para o casal decidir aplicar o dinheiro da rescisão contratual de Isabela – cerca de R$ 35 mil – na abertura da loja. “Tudo se encaixou de uma forma que só Deus para explicar”, enfatizou a ex-securitária.
Benchmarking – foco na pesquisa de mercado
Isabela destacou que, antes de abrir a loja, pesquisou muito as docerias concorrentes. Os elogios e reclamações registrados nas redes serviram de parâmetro para o casal definir os rumos que dariam ao negócio. O cardápio também foi montado com base na pesquisa da concorrência.
“A gente experimentou doces de marcas famosas para ter referência. Vimos, por exemplo, uma banoffe [torta de banana com doce de leite] que era o maior sucesso. Eu não conhecia essa torta. Gostei muito e criei a minha versão dela”, revelou Isabela.
A loja foi aberta com mais de 30 itens no cardápio, incluindo doces veganos, para atender ao máximo todo tipo de público. Da média de até 30 pedidos por dia atendidos quando a produção era toda caseira, o casal passou a receber mais de 120 diários.
Banoffe, clássica torta de banana com doce de leite, ganhou versão autoral de Isabela depois de experimentar receita de sucesso da concorrência
Bella Doceria/Divulgação
“A gente produz cerca de 1,6 mil doces por semana. Domingo já não tem quase nada para vender e desde que inauguramos a loja não conseguimos abrir em nenhuma segunda-feira, porque é o dia que a gente tira para produzir a maior parte dos produtos”, contou Luiz.
Com apenas um mês de loja aberta, o casal percebeu que o negócio não cabe continuar como MEI. Eles contrataram uma funcionária para trabalhar no caixa, mas precisam de novos funcionários [o MEI só permite a contratação de um trabalhador]. “Nosso contador já está cuidando da mudança de porte da empresa”, destacou Isabela.
‘Parece que a gente é celebridade’
Para além de ver o negócio crescer rapidamente, o casal diz que uma das maiores satisfações é o retorno do público. Cerca de 80% da clientela, diz, é recorrente desde quando estavam atendendo apenas por delivery via plataformas online.
“Tem hora que parece que a gente é celebridade. Tem sempre algum cliente chegando na loja perguntando quem é Isabela e Luiz e dizendo que fez questão de ir até lá apenas para conhecer a gente, porque adoram os nossos doces”, contou Luiz.
Por enquanto, a doceria só atende a pedidos de bairros da Zona Norte. A expansão das entregas depende do aumento do porte da empresa, para contratar entregadores. Enquanto isso, o casal diz se surpreender com clientes que saem de bairros distantes para provar seus doces.
“Uma pessoa pegou um Uber do Catumbi [região Central do Rio] até o Meier no fim de tarde de um domingo e chegou na loja dizendo que estava ansiosa para conhecer nossos doces. A gente já não tinha quase nada para servir, mas conseguimos atender ela. Nem nos meus melhores sonhos imaginei que isso fosse acontecer um dia”, comemorou Isabela.

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