Deepfakes viraram a nova realidade do crime digital – 15/06/2025 – Ronaldo Lemos

Em 2024 um funcionário da empresa de engenharia britânica Arup recebeu um email do diretor financeiro solicitando uma transferência urgente. Para confirmar, foi feita uma chamada de vídeo com o diretor e vários executivos da empresa.

O funcionário transferiu então US$ 25 milhões para 15 contas diferentes. Mal sabia que tinha caído em um golpe feito por inteligência artificial. O email era falso e os participantes da chamada de vídeo eram deepfakes. O incidente levou à demissão do responsável pela divisão da empresa onde o golpe aconteceu.

Também no ano passado, instituições de ensino online na Califórnia começaram a notar um tipo diferente de aluno se inscrevendo. Essas instituições, mantidas por programas públicos, oferecem treinamento gratuito para estudantes de baixa renda em habilidades como inglês, matemática e negócios. Golpistas criaram 223 mil perfis de alunos fantasmas feitos com IA. Os alunos frequentavam o curso e faziam as provas de forma automatizada. Assim que recebiam a bolsa (paga por um programa governamental), desapareciam. Cerca de US$ 11 milhões foram desviados. Em alguns cursos, 30% dos alunos matriculados eram fantasmas feitos por IA.

Já na Inglaterra uma mulher de 60 anos conheceu no Tinder um suposto coronel do exército. Eles começaram a se comunicar e fizeram diversas chamadas por vídeo em que ele aparecia de uniforme e conversava com ela, fazendo declarações de amor. O coronel deepfake chegou a mandar presentes e flores para a mulher. Até que pediu que ela contribuísse para a franquia do seu seguro de saúde. A mulher transferiu 20 mil libras para o “coronel” e ele sumiu.

No Brasil, operação da Polícia Federal prendeu um grupo que usava inteligência artificial para enganar sistemas de verificação facial. A quadrilha pegava fotos de pessoas nas redes sociais e usava IA para “animar” esses rostos. Com isso, conseguiu abrir contas bancárias, tomar empréstimos e realizar desvios. Cerca de R$ 50 milhões foram movimentados pelos bandidos.

Esses exemplos que hoje parecem pitorescos estão se tornando o novo normal. Hoje, ferramentas de inteligência artificial podem ser usadas para fraudes cada vez mais abrangentes. Não precisam nem ser deepfakes. É possível forjar imagens de documentos: comprovantes de residência, extratos bancários, recibos de restaurantes, notas fiscais, diplomas, cartas de recomendação, cartões de vacinação, cartões de embarque, ingressos, crachás e muito mais.

Em outras palavras, a inteligência artificial está colocando uma pressão enorme sobre todas as formas de identificação e de certificação. O relatório de identidade e fraude publicado pela Serasa em 2025 apontou que 51% dos brasileiros afirmam ter sido vítimas de algum tipo de fraude em 2024, ante 42% em 2023. Dentre as vítimas, 54% sofreram perda monetária.

O que fazer? De pronto, promover sempre identificação e certificação com mais de um fator. Investir em educação digital também ajuda. Mas são paliativos. Solução mesmo só virá reinventando o sistema de identidades para um mundo pós-inteligência artificial.

Já era – confiança

Já é –falsificar tudo, de pessoas a documentos

Já vem – necessidade de reinventar as certificações


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Visto primeiro na Folha de São Paulo

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