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Da Quinta-feira à Sexta-feira: Como o Trabalho Híbrido Está Mudando Nossos Dias de Semana

Da Quinta-feira à Sexta-feira: Como o Trabalho Híbrido Está Mudando Nossos Dias de Semana

Home office permite que trabalhadores ‘escapem’ de passar a sexta-feira no escritório. Já a quinta-feira registra aumento da circulação pela cidade, dos níveis de congestionamento de trânsito, das reservas de mesa de trabalho e até da clientela de bares e restaurantes.

Fachada do bar e restaurante Charme do Brooklin na noite de uma quinta-feira de happy hour.

Da Quinta-feira à Sexta-feira: Como o Trabalho Híbrido Está Mudando Nossos Dias de Semana

Da Quinta-feira à Sexta-feira: Como o Trabalho Híbrido Está Mudando Nossos Dias de Semana – Fábio Tito/g1

As sextas não são mais as mesmas. Quem trabalha nos principais polos empresariais de São Paulo se acostumou a um novo padrão: a nova morada do “fervo” é a quinta-feira.

Do trânsito nas ruas pela manhã até os bares lotados à noite, é notável como o comportamento de ir ao escritório mudou desde o retorno ao trabalho presencial, após as flexibilizações de protocolos da pandemia de Covid.

Em um novo momento, mais recente, as empresas apertaram o cerco e passaram a requisitar a presença dos funcionários em mais dias da semana. Isso reforçou o conceito da “semana de deputado”, com preferência por dar as caras às terças, quartas e quintas-feiras.

Os números já comprovam a tese: a plataforma de gestão de escritórios Deskbee identificou um aumento total de quase 50% nas reservas de estações de trabalho no primeiro semestre de 2023 contra o mesmo período de 2022, de uma base de mais de 350 mil usuários.

Da Quinta-feira à Sexta-feira: Como o Trabalho Híbrido Está Mudando Nossos Dias de Semana

Hoje, é preciso reservar uma mesa para trabalhar em boa parte das grandes empresas, principalmente as que reduziram o tamanho dos escritórios durante a pandemia.

O mesmo vale para as salas de reunião, que tiveram aumento de 70% no mesmo período. E mais: 65% das reservas são feitas para quartas e quintas-feiras.

No contexto atual, do modelo híbrido, o escritório passou a servir para atividades colaborativas e de interação entre as equipes, como brainstorms, networking e momentos de conexão.

Não custa ressaltar que a realidade do trabalho híbrido é um privilégio de funcionários qualificados. Mas o executivo complementa que o home office, que foi a única alternativa para boa parte dos trabalhadores nos dias de isolamento social, serve agora para momentos de concentração e tarefas isoladas.

A questão é que as empresas passaram a notar queda de produtividade no corpo de funcionários e têm pedido retorno ao escritório. E o novo desafio de conciliar o anseio do profissional com a vontade da empresa é feito no fio da navalha.

Metrô lotado: 38% dos trabalhadores procurariam trocar de emprego se o 100% presencial voltasse; deslocamento é um dos gargalos.

A última sondagem da consultoria Robert Half mostra que 38% dos trabalhadores passariam a procurar emprego se fossem convocados a retornar ao presencial nos cinco dias da semana.

Por outro lado, aumentou para 33% o número de empresas que voltaram ao regime antigo, com 100% de presença. O modelo híbrido é, hoje, a maioria e foi adotado por 59% das empresas. Apenas 8% estão em esquema totalmente remoto.

Segundo Lucas Nogueira, diretor regional da Robert Half, o movimento de retorno aos escritórios é motivado, principalmente, pelo anseio de fortalecimento da cultura organizacional.

“As lideranças enfatizam a relevância de consolidar a identidade corporativa e aprimorar a capacidade de gerir, visto que a gestão remota já se mostrou extremamente desafiadora. As preocupações com a produtividade e o engajamento dos profissionais também têm influenciado”, diz.

Nogueira ressalta, contudo, que o desafio do empregador passou a ser o de oferecer um ambiente de trabalho que respeite as individualidades enquanto promove valores e objetivos da empresa.

É evidente que a resistência de adaptação às mudanças do mercado resulta em desafios na atração de talentos qualificados e em obstáculos significativos na retenção de profissionais-chave.

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Espaços ainda estão vazios

Nos momentos mais críticos da pandemia, o g1 mostrou como parte das empresas passou a redimensionar os espaços de trabalho e a devolver andares de prédios corporativos.

Números da consultoria JLL mostram que, logo antes do impacto da pandemia, a vacância de prédios corporativos na capital paulista chegou a apenas 13,6%. Em pouco mais de um ano, o número subiu para 24,6%.

Além da onda de devoluções, a cidade recebeu mais oferta de imóveis corporativos. Prédios planejados para uso em um contexto pré-pandêmico foram entregues pelas construtoras, inchando a disponibilidade de espaços. No segundo trimestre deste ano, portanto, a vacância chegou a subir, para 25,6%.

De acordo com Rafael Calvo, diretor de locação na divisão de escritórios da JLL, o retorno gradual ao trabalho presencial preencheu primeiro as regiões tradicionais e mais concorridas da cidade. Mas ainda deixou de lado os lugares mais afastados, que receberam investimentos pesados na construção de novos imóveis.

Com os juros do país caindo, devemos ter o primeiro ciclo de expansão do mercado de imóveis corporativos em muitos anos, por reflexo de novas contratações.

Hoje, regiões como da Avenida Brigadeiro Faria Lima e Juscelino Kubitschek registram números baixíssimos de vacância, abaixo dos 10%, e preços de aluguel em disparada.

Já a região da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini e Chucri Zaidan tem vacância na casa dos 32%, com previsão de ganhar um novo estoque de 66 mil metros quadrados de novo espaço.

Esse é o segundo maior aumento de oferta esperada pela JLL, atrás apenas da Chácara Santo Antônio, que deve ganhar 95 mil metros quadrados entre 2024 e 2025. A região da Faria Lima, com pouca oportunidade, deve ganhar apenas 18 mil metros quadrados. A Vila Olímpia, 4 mil.

A expectativa, daqui em diante, é que os espaços sejam preenchidos aos poucos, tanto pela dinâmica de trabalho presencial mais constante como o crescimento das equipes das grandes empresas, conforme a economia passe a acelerar.

“A região da Berrini e Chucri Zaidan eram o eixo de crescimento do mercado, que estava habituado a se locomover todos os dias para trabalhar. Agora, com a consolidação do trabalho híbrido, há mais resistência para locação em regiões que têm o acesso mais complicado”, afirma Calvo.

‘Quintou’ no bar

Os “momentos de conexão” que Mário Verdi, da Deskbee, faz menção também acontecem fora do horário de trabalho. Bares e restaurantes dos arredores das regiões empresariais de São Paulo também percebem o novo comportamento dos consumidores, e apostam nas quintas-feiras para faturar pesado.

O bar e restaurante Charme do Brooklin, na Berrini, repete a cena, semana a semana: quintas-feiras de happy hour abarrotado e sextas-feiras relativamente tranquilas.

A quinta-feira virou mais uma sexta, como se hoje tivéssemos duas na semana. Mas o fluxo das quintas é cada vez maior, uma melhor que a outra.

A observação dos garçons e da gerência se dá na seguinte lógica, como confidenciaram à reportagem: quem vai perder duas horas para ir e voltar do escritório em uma sexta-feira, enquanto pode trabalhar de casa?

É bem verdade de que ninguém mais quer sair de casa às sextas-feiras. É o que mostra um levantamento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP), que mede o trânsito na capital paulista em cada dia na semana.

Em 2023, a quinta-feira passou mais quilômetros de congestionamento que a sexta pela primeira vez. Neste ano, a quinta tem média de 341 quilômetros parados, contra 321 quilômetros na sexta.

Outro fato: a circulação se consolidou em patamares mais baixos. O levantamento da CET mostra que, em 2019, a sexta-feira era a campeã de congestionamento com média da 537 quilômetros, um número 57% maior que a quinta-feira de 2023.

Morar mais perto ainda é luxo

Lá em 2020, com a chegada da pandemia e o home office em expansão, houve uma cambalhota na procura por imóveis, com destaque para metragens maiores e mais afastados do centro. Agora, o trabalho híbrido (e a necessidade de “bater ponto”) vai desfazendo lentamente a tendência de viver em locais mais ermos e baratos.

Mas há um grande entrave: no início do ano, o g1 mostrou como os aluguéis têm sido reajustados acima da inflação oficial do país, depois que os proprietários resolveram recuperar as perdas que tiveram durante a pandemia.

O preço mais alto e a renda mais apertada pela inflação dos últimos anos fazem com que o desejo nem sempre se torne realidade. A pedido do g1, duas plataformas digitais de imóveis montaram levantamentos de demanda, como um termômetro do mercado.

O ZAP+ levantou um comparativo com dados dos portais ZAP e Viva Real, além de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que cruzam a procura por imóveis com os locais considerados próximos de centros econômicos de São Paulo.

O relatório mostra que a procura por apartamentos próximos dos locais de trabalho ainda está em cerca de 25% do que era no primeiro trimestre de 2020.

A queda no nível de demanda foi mais forte para locação do para compra e venda. Então, para recuperar o mesmo nível, pode haver mais demora. A forte valorização também pode ter impacto na velocidade dessa retomada.
“Um potencial comprador precisa avaliar aspectos de longo prazo e são menos suscetíveis às tendências, por isso as curvas de compra são bem mais ‘suaves’ que as de locação”, afirma.

O levantamento mostra que o mercado de compra e venda de imóveis próximos ao local de trabalho passou por uma “convergência”, nos últimos dois trimestres, para os níveis pré-pandemia. Mas a demanda em si ainda está por volta de 60% do que era no primeiro trimestre de 2020.

Com foco na venda de imóveis, o estudo da startup Loft mostra que as vendas de apartamentos pequenos voltaram a ser protagonistas no mercado. É mais uma mostra de reversão da tendência de pandemia.

Em 2021, 29% dos apartamentos vendidos na cidade eram pequenos. Neste ano, o percentual que subiu para 35%. A Loft considera imóveis pequenos aqueles que possuem até 90 metros quadrados.
Com o fim total das restrições, aliado ao retorno ao trabalho presencial, os imóveis maiores deixam de ser tão fundamentais.

“E não podemos desconsiderar que as condições para aquisição de imóveis ficaram mais complexas com o aumento da taxa de juros. Dessa forma, apartamentos menores, que também tendem a ter um preço final menor, ganharam espaço.”

Vale lembrar que apesar da redução da taxa básica (Selic) feita pelo Banco Central no começo deste mês, os juros seguem em níveis elevados, a 13,25% ao ano.

Entre as regiões vistas pela empresa como privilegiadas, estão Bela Vista e República para imóveis pequenos, e Vila Andrade e Perdizes para imóveis grandes (acima de 140 metros quadrados) — todos locais centrais da cidade e próximos a importantes polos de emprego.

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