Conversar com os mortos? Empresa propõe iniciativa polêmica que utiliza IA
Nos dias de hoje, a inteligência artificial tem se estabelecido como uma presença cada vez mais abrangente e significativa em nossa sociedade. De fato, essa tecnologia está invadindo e assumindo diversos aspectos da vida humana. Ela molda significativamente a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos.
Desde assistentes virtuais em nossos smartphones até sistemas de recomendação personalizados em plataformas de streaming, a IA está em toda parte. Ela impulsiona a automação, a análise de dados e a tomada de decisões.
IA para enfrentar o luto
Nos Estados Unidos, a empresa HereAfter AI tem o objetivo de desenvolver uma avançada inteligência artificial capaz de estabelecer comunicação com falecidos.
Com isso, o propósito é coletar diversos tipos de informações, tais como fotografias, vídeos e dados sobre a personalidade, preferências e expressões faciais de uma pessoa tanto em vida quanto após seu falecimento.
Essas informações serviriam para criar um avatar virtual. Assim, seria possível a interação entre outras pessoas e a IA representando o indivíduo que faleceu.
Essa iniciativa visa a explorar as possibilidades tecnológicas de simular a presença e a personalidade de uma pessoa que não está mais viva. Desse modo, proporcionaria um meio para as pessoas se conectarem com entes queridos ou figuras importantes que partiram para tentar amenizar as consequências causadas pelo luto.
Os perigos
No entanto, conforme um estudo da renomada revista MIT Technology Review, a utilização da IA para simular pessoas falecidas, apesar de parecer emocionante e ser impulsionada por boas intenções, pode acarretar uma série de problemas e desafios éticos.
Um dos aspectos importantes é a dimensão emocional e psicológica no contato com um avatar de alguém que já faleceu. A interação com uma inteligência artificial que se passa por uma pessoa amada pode ser perturbadora e complicada para quem estiver passando pelo processo de luto.
A pesquisa destaca que a experiência de lidar com uma entidade virtual que lembra o ente querido pode gerar conflitos emocionais e dificultar o processo de aceitação e adaptação à perda.
Isso pode se comparar aos efeitos nocivos de uma droga, como explica a doutora Gabriela Casellato:
“Um app usado livremente pelo enlutado estaria a serviço de suas angústias e desespero diante da saudade, impedindo o desenvolvimento de recursos pessoais de enfrentamento.”
Apesar de doloroso, é necessário vivenciar o luto
Leide Batista, renomada psicóloga, destaca que reviver aspectos do passado, como interagir com pessoas falecidas por meio da inteligência artificial, pode ter consequências negativas para a saúde emocional.
De acordo com ela, relembrar intensamente pessoas que já não estão mais entre nós não contribui de maneira benéfica para o processo de passagem pelo luto.
Ao invés de buscar interações artificiais com mortos, Leide Batista recomenda que as pessoas em luto busquem apoio emocional em recursos mais adequados. Seriam eles o suporte de familiares, o apoio de amigos e a ajuda de profissionais especializados.
Essas fontes de apoio podem auxiliar na expressão e elaboração das emoções, oferecer consolo e orientação. Além de proporcionar um ambiente seguro para o indivíduo se reconstruir emocionalmente.
Em suma, a inteligência artificial apresenta um potencial notável e pode trazer inúmeros benefícios para a sociedade em várias áreas. No entanto, é fundamental reconhecer que a crescente invasão da IA em campos que demandam a presença e a expertise humana levanta preocupações significativas.
Não se trata exatamente de culpa da IA, mas de como os seres humanos buscam cada vez mais alternativas para evitar lidar com a realidade e suas complexidades.
Veja a matéria original no R7