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Há mais de 20 anos, Phil Spencer é sinônimo de Xbox. Um dos primeiros executivos a trabalhar na divisão de games da Microsoft, ainda em 2001, ele é desde 2014 o responsável por toda a área de jogos eletrônicos da empresa de tecnologia.
No Brasil para participar da CCXP, principal evento de cultura pop do país, o executivo falou com a Folha em um hotel em São Paulo sobre suas expectativas para o futuro da indústria.
Além de esclarecer as intenções da empresa com a aquisição da Activision Blizzard e em relação ao mercado mobile, ele comentou o aumento de 36% no preço sugerido do Xbox Series S no Brasil (passando de R$ 2.649 para R$ 3.599) e o momento do mercado de consoles.
Mercado de consoles
“O console é muito, muito importante. É o núcleo da nossa marca e onde estão nossos melhores consumidores, que gastam mais e passam mais horas na nossa plataforma, mas não podemos ter apenas jogadores que compram um console. A indústria de consoles como um todo não está crescendo. Telefones são a plataforma de crescimento mais rápida para jogadores. O PC teve um crescimento incrível. Somos uma empresa voltada para os jogadores, não para os dispositivos.”
Aumento de preço do Xbox Series S no Brasil
“Aumentos de preços são sempre difíceis. Trabalhamos muito para manter o preço do modelo S o mais baixo possível nos primeiros três anos da geração do console. No Brasil, a situação dos impostos para importação de eletrônicos é muito difícil. Então, quando estávamos analisando a viabilidade do nosso negócio no mercado brasileiro, precisamos aumentar o preço.”
“Mesmo com o aumento, o valor que recebemos por console no Brasil –sem contar o lucro do varejo e os impostos– é o mais baixo do mundo. Então precisamos aumentar o preço para manter o negócio aqui. Foi uma necessidade que tivemos, uma mudança que precisávamos fazer no longo prazo.”
“Console é item de luxo”
“É uma questão de escolha. Sabemos que os consoles, em geral, são itens de luxo, com ou sem aumento de preços. Definitivamente, são itens de luxo aqui, considerando o preço dos eletrônicos para o consumidor. Por isso é importante para nós focar em PC, focar em nuvem e ter consoles aqui. Temos visto um crescimento incrível no PC. O Game Pass para PC está praticamente dobrando a cada ano. Pensamos no tamanho da base de usuários lá. Nossa nuvem tem um desempenho incrível.”
“Nunca tivemos tantos jogadores de Xbox no Brasil como temos hoje. Muitos deles estão no console, mas também temos muitos no PC e muitos na nuvem, e essa continuará sendo nossa abordagem aqui.”
Críticas pelo aumento
“Não esperava receber aplausos, elogios e abraços por aumentar os preços. Sempre adotei a abordagem de ser transparente sobre por que precisamos tomar as decisões comerciais que precisamos tomar. Estou aqui na CCXP, falando com a comunidade, conversamos com muitos criadores , estou conversando com muitos meios de comunicação…Faz parte de administrar um grande negócio, às vezes você precisa aumentar o preço.”
Desenvolvedores brasileiros
“Estou passando mais tempo com criadores de jogos aqui do Brasil. Há uns dez anos, não tinham tantos. É legal ver o crescimento da indústria de games aqui, com jogos de criadores brasileiros sendo distribuídos para o mundo. Lembro-me de comemorar o primeiro jogo do ID@Xbox vindo do Brasil e agora há muitos, e estúdios que estão no mercado há mais de 10 anos.”
Lançamentos no Xbox Game Pass no dia 1
Em 2018, a Xbox anunciou que passaria a disponibilizar os jogos dos seus estúdios desde o lançamento em seu serviço de games por assinatura, o Xbox Game Pass –plataforma que se assemelha a uma “Netflix dos games”. A novidade foi uma mudança de paradigma para uma indústria que sempre baseou seu crescimento na venda de jogos, principalmente no lançamento. Cinco anos depois, Phil Spencer diz que a aposta tem dado resultado.
“Estamos menos focados nos consumidores de outras plataformas e pensando mais em como fazer crescer o Xbox. Tanto para os jogadores quanto para as pessoas que não jogam com tanta frequência, ou talvez que hoje não tenham acesso a games. Com Game Pass você tem um custo inicial menor para construir uma biblioteca de jogos do que comprar cada jogo individualmente. Portanto, há uma troca para nós como empresa. Se você tivesse apenas o jogo disponível no varejo, teoricamente, venderia mais unidades do que se o colocasse no Game Pass. No entanto, ao colocar o jogo no Game Pass, você alcança mais jogadores do que alcançaria.”
Recepção a “Starfield”
Lançado em setembro pela Bethesda (empresa adquirida pela Microsoft em 2020), “Starfield” foi um dos jogos de maior expectativa lançado diretamente no Xbox Game Pass e se tornou um teste para o modelo de negócios da empresa.
Logo após o lançamento o jogo alcançou números impressionantes de jogadores tanto no serviço de assinatura da Xbox quanto na loja virtual Steam. No entanto, não se tornou um sucesso absoluto de crítica e vem perdendo jogadores.
“Construir uma nova propriedade intelectual nem sempre é fácil. Pouquíssimos estúdios criam jogos desse tamanho com um novo mundo, novos personagens, novas histórias. Então, acho que é corajoso para uma equipe tentar construir um novo mundo”, disse.
“Eles têm todo o mundo de Elder Scrolls para eles, o mundo de Fallout. Acho que o caminho mais fácil teria sido fazer “Skyrim 2”, “Elder Scrolls 6”, qualquer coisa assim… Sim, eles farão “Elder Scrolls 6”, mas se eles estivesse apenas gerenciando o negócio de olho nas planilhas e procurando menos riscos, teria escolhido apenas o próximo “Fallout” ou o próximo “Elder Scrolls”. Em vez disso, a equipe decidiu construir algo completamente novo pela primeira vez em mais de 20 anos.”
“Estamos sempre ouvindo o feedback [dos jogadores]. Mas estou incrivelmente orgulhoso de ver mais de 12 milhões de pessoas jogando o game. Ele ainda está entre os dez mais jogados, sendo um título apenas para um jogador.”
Pós-compra da Activision Blizzard
Em 13 de outubro, a Microsoft concluiu a aquisição da Activision Blizzard. O negócio de US$ 75 bilhões (R$ 380 bilhões) é considerado o maior da história da indústria de videogames e inclui também a King, desenvolvedora de “Candy Crush”, game de sucesso para celulares e área que Phil Spencer apontou como uma das prioritárias para a empresa.
“Eu não chego com uma abordagem de que tenho respostas para eles. Acho que eles merecem ter sua voz, são equipes que fazem um trabalho incrível. Então, a primeira coisa que fizemos foi visitar as equipes. Os resultados comerciais vêm de equipes excelentes que se sentem seguras, ouvidas e incluídas e quero ter certeza de que estamos lá.”
“Estou interessado em aprender. Estou aprendendo muito sobre jogos para dispositivos móveis. É uma experiência que eles têm e o Xbox não tem, mas também aprendendo com equipes que construíram alguns dos jogos mais incríveis já criados e como podemos ajudar eles.”
Papel da aquisição para concorrer com Apple e Google
“Passei toda a minha carreira na Microsoft. Nossa grande plataforma é o Windows e uma coisa que sempre valorizei no Windows é que ele é uma plataforma aberta. Sim, no Windows, temos uma Microsoft Store e nossos próprios serviços, mas qualquer pessoa pode instalar o Steam, pode instalar o Discord. Como terceiros, as pessoas podem criar navegadores. E acho que, à medida que os telefones se tornaram a maior plataforma de consumo, sou um grande defensor da abertura também da tela do celular. Pensando especificamente na oportunidade de games, acredito que os clientes e criadores devem ter escolha na forma como compram e onde os criadores colocam seu conteúdo.”
“Meu objetivo é criar uma alternativa para as lojas de aplicativos dessas plataformas. Adoraria que os fãs do Xbox tivessem a opção de comprar seus jogos diretamente conosco, em qualquer dispositivo, e quando penso no que a Activision, Blizzard e King trazem para nós, eles trazem uma escala real de engajamento nessa tela.”
“Com ‘Candy Crush’, ‘Call of Duty Mobile’, ‘Diablo Immortal’ e ‘Minecraft’, temos algumas das maiores propriedades para dispositivos móveis, que nos permitem, à medida que as regulamentações mudam, termos usuários em nossas propriedades que podemos direcionar para lojas alternativas, para nos ajudar a expandir nosso próprio negócio.”
IA no desenvolvimento de games
Em novembro, a Xbox anunciou uma parceria com a Inworld, startup de IA que desenvolve ferramentas para criação de personagens com inteligência artificial para jogos.
Phil Spencer afirma que o negócio funcionará mais como uma parceria tecnológica, para ajudar as duas empresas a crescerem nessa área, e diz haver muitas dúvidas sobre como a inteligência artificial pode ajudar no desenvolvimento de games.
“Estamos muito no início. Acredito que, como indústria de jogos, sempre estivemos na vanguarda da adoção de novas tecnologias. A IA não está muito fora do que já vimos há anos nos videogames em termos de criação de personagens e outras coisas. Atualmente, a IA generativa não desempenha um papel em nosso portfólio de jogos. É uma tecnologia emergente, na qual a Microsoft está claramente investindo. Estamos ouvindo e aprendendo sobre o que essa tecnologia pode significar, mas estamos tão no início que não vejo nenhum impacto hoje.”
Play
dica de game, novo ou antigo, para você testar
SteamWorld Build
(PC, PS 4/5, Xbox One/X/S, Switch)
O mais novo jogo da franquia de jogos de robozinho “SteamWorld” explora novos territórios. Após jogos de tower defense, plataforma, batalhas em turnos e de cartas, os desenvolvedores da Image & Form fizeram um game que evolui de um simples construtor de cidades para um game de estratégia em tempo-real com um complexo sistema de administração de recursos. Além disso, o título conta com uma história com personagens divertidos (algo raro para o gênero) e que complementa o universo da franquia.
O jornalista recebeu uma cópia do jogo com acesso antecipado para teste.
Update
novidades, lançamentos, negócios e o que mais importa
- A ByteDance, proprietária do TikTok, anunciou que irá “reestruturar” seu investimento em games, o que deverá resultar no fechamento de sua publisher Nuverse, responsável por “Marvel Snap”. Apesar disso, os desenvolvedores do jogo afirmaram no X que continuarão trabalhando no título independentemente das mudanças na publicadora.
- A Gamescom, maior feira de games da Europa, e o BIG Festival, principal evento de desenvolvedores do Brasil, anunciaram sua fusão para organizar a Gamescom Latam, que promete ser a maior convenção de desenvolvedores de games da América Latina. A primeira edição do evento está marcada para 26 a 30 de junho de 2024, em São Paulo.
- Os três primeiros jogos 3D da série “GTA” — “GTA 3”, “GTA Vice City” e “GTA San Andreas”– serão lançados para dispositivos móveis pela Netflix. Os jogos serão disponibilizados gratuitamente para os assinantes da plataforma a partir de 14 de dezembro.
- A Rockstar, desenvolvedora da série “GTA”, anunciou para o próximo dia 5, às 11h (de Brasília), a divulgação do primeiro trailer de “GTA 6”, sequência de um dos jogos de maior sucesso da história do mercado de games.
- A Sega afirmou em uma sessão de perguntas e respostas com investidores que vem usando internamente a ferramenta de inteligência artificial ChatGPT-4 em seu escritório no Japão “em várias situações empresariais”. Quanto ao uso de tecnologias de IA generativa, a empresa disse que ainda avalia a legislação e a necessidade dos consumidores.
- A Sony anunciou uma parceria estratégica com a NCSOFT, publicadora e desenvolvedora coreana de MMOs. Segundo comunicado divulgado pela Sony, as empresas vão “colaborar em várias áreas globais de negócio, incluindo dispositivos móveis”.
- Um menor de idade, representado por seus pais, abriu um processo na Califórnia contra a Take-Two Interactive e a 2K Games acusando as empresas de roubo e práticas comerciais abusivas pelo fato das moedas virtuais dos seus jogos não serem transferíveis e ficarem inutilizáveis depois do jogo ser desativado.
- O game “Dragon’s Dogma 2”, que foi tema da newsletter, ganhou uma data de lançamento. O RPG de ação da Capcom deve chegar aos PCs e consoles em 22 de março do ano que vem.
Download
games que serão lançados nos próximos dias e promoções que valem a pena
5.dez
“A Highland Song”: R$ 85,04 (Switch), preço não disponível (PC)
“Disney Dreamlight Valley”: R$ 112,45 (PC, Switch, Xbox One/X/S), R$ 159,90 (PS 4/5)
“Skater XL”: R$ 107,99 (Switch)
“Sonic Dream Team”: grátis* (iOS)
“The Anacrusis”: R$ 59,99 (PC), R$ 74,95 (Xbox One/X/S)
“The Lord of the Rings: Return to Moria”: preço não disponível (PS 5)
7.dez
“Avatar: Frontiers of Pandora”: R$ 299,99 (PC), R$ 329,95 (PS 5, Xbox X/S)
“Outer Wilds”: R$ 79,99 (Switch)
“Terminator: Dark Fate – Defiance”: preço não disponível (PC)
“The Day Before”: preço não disponível (PC)
12.dez
“Bear and Breakfast”: preço não disponível (PS 4/5)
“SpongeBob SquarePants: The Cosmic Shake”: R$ 39,99 (iOS), preço não disponível (Android)
*Exclusivo para assinantes Apple Arcade