Em 1967, durante a Guerra do Vietnã, os Estados Unidos deram início à Operação Popeye. A ideia era alterar o clima sobre o Vietnã, prolongando a estação das chuvas para dificultar o avanço das tropas inimigas. Foram feitas 2600 missões ao longo de 5 anos para jogar iodeto de prata e de chumbo sobre as nuvens da região.
A ideia funcionou, só que no lugar errado. O país mais atingido foi o Laos, que era neutro na guerra, mas por onde passava a trilha Ho Chi Minh, rota usada pelo Vietnã do Norte. Houve lama, enchentes, deslizamentos, perdas agrícolas e impacto permanente sobre regiões florestais e agrícolas.
A revolta pública levou à assinatura da Convenção sobre a Proibição do Uso Militar ou Qualquer Outro Uso Hostil das Técnicas de Modificação Ambiental, em 1976. Mas a geoengenharia não morreu aí, muito pelo contrário. Há um movimento crescente de privatização do uso dessas tecnologias.
Em 2012, o empresário canadense Russ George despejou 100 toneladas de sulfato de ferro no Oceano Pacífico para “fertilizar” o crescimento de microplâncton e acelerar a absorção de gás carbônico. Essa técnica pode alterar o ecossistema marinho, proliferando algas tóxicas e criando zonas mortas sem oxigênio.
A ação não foi autorizada e gerou acusação de violação à Convenção de Londres sobre Prevenção da Poluição Marinha, mas não resultou em punição por lacunas jurídicas. Antes disso, George havia criado a empresa Planktos, que pretendia ganhar dinheiro com geoengenharia vendendo créditos de carbono por fertilização oceânica, mas fechou em 2008 devido a problemas regulatórios e financeiros.
Nesta semana, a revista Wired trouxe mais um tijolo nesse muro. Uma empresa israelense chamada Stardust está desenvolvendo um aerossol para ser jogado na atmosfera, esperando que as partículas bloqueiem os raios solares, reduzindo o aquecimento global. Em geral esse aerossol é feito com enxofre.
Por exemplo, em 1991, o vulcão Pinatubo nas Filipinas lançou 20 milhões de toneladas de dióxido de enxofre na atmosfera, reduzindo as temperaturas globais em 0,5°C por dois anos, mas também causando chuvas ácidas em diversas regiões.
A Stardust afirma que seu aerossol não será baseado em enxofre, mas não revela a composição exata. Pretende vender a tecnologia a governos e entidades internacionais, tornando-se uma espécie de SpaceX do clima. A proposta atrai investidores, inclusive ligados a setores militares. Isso representa uma guinada: até agora, os projetos de geoengenharia eram conduzidos por universidades, com ampla transparência e supervisão pública. Não é mais o caso.
Pesquisadores como Ben Kravitz e Shuchi Talati alertam que outras empresas, como a Make Sunsets, já estão operando e sem transparência (o México proibiu testes da empresa no país). Propõem uma transparência radical urgente. Especialmente porque uma corrida está se formando para ganhar dinheiro com geoengenharia, agora vista como bom negócio. Isso lembra nossa “indústria da seca”: elites criando dependências e prolongando problemas, em vez de resolvê-los pela raiz.
Já era – Geoengenharia só na ficção científica
Já é – Pesquisas sobre geoengenharia nas universidades
Já vem – Startups competindo para ver quem melhor desenvolve sua geoengenharia