Com uma trajetória em psicologia, Agnieszka Wykowska não imaginava que robôs seriam um tema de estudo em sua carreira como cientista. Isso até ela ter sido convidada para um pós-doutorado que conectava psicologia cognitiva e robótica. “Por que eu estaria interessada nisso?”, relembra Wykowska, fazendo alusão a reação que teve diante do convite que foi aceito por ela.
Atualmente, tudo mudou. Desde o pós-doutorado, que teve início em meados de 2008 e 2010 —Wykowska não tem certeza sobre a data—, a pesquisadora se viu cada vez mais conectada com o estudo de robôs. Mas ela não esquece o lado humano da equação. Na realidade, Wykowska usa robôs para entender mais sobre o cérebro humano e como ele funciona quando de frente a esse tipo de máquina.
“Quando pensamos nas interações sociais com outros seres humanos, o nosso cérebro desenvolveu múltiplos mecanismos para interagir com outras pessoas de forma eficiente e sem falhas. A questão é saber se mecanismos semelhantes são ativados numa interação com robôs e como podemos utilizá-los para estudar esses mecanismos”, explica Wykowska, que agora desenvolve um projeto de pesquisa sobre interação entre humanos e robôs no IIT (Instituto Italiano de Tecnologia), em Gênova.
O foco de pesquisa de Wykowska é só um tema num campo que une diferentes áreas de estudo, como psicologia e robótica. Maartje de Graaf, professora assistente de interação entre humano e computador na Universidade de Utrecht, nos Países Baixos, afirma que o interesse pelo viés social de robôs está conectado com a proliferação dessas máquinas. A partir da popularidade desses equipamentos, pessoas passaram a interagir cada vez mais com eles e perguntas foram levantadas.
Esses robôs modelados para interações com humanos recebem até um nome por pesquisadores do campo –são chamados de robôs sociais. Não existe um consenso, mas os especialistas ouvidos pela reportagem elencaram que robôs sociais são os equipamentos criados para interagirem com pessoas de um modo muito próximo à convivência social que humanos já estão acostumados.
Esse tipo de interação é o que mais interessa Graaf. Atualmente, a pesquisadora prioriza o estudo de por que, em algumas situações, pessoas tratam robôs como se fossem humanos ou seres vivos, seguindo certas normas sociais ou modos de comportamento. “O que é que faz com que as pessoas vejam os robôs dessa forma? Seriam fatores do robô ou do usuário? E também o que isso significa? É algo bom, algo mau ou algo no meio-termo?”.
Chris Krageloh, editor-chefe do Journal of Psychology and AI (Jornal de Psicologia e Inteligência Artificial), é um exemplo. Ele conta que, certo dia, um amigo perguntou se ele fala por favor quando pede algo para uma IA (Inteligência Artificial). A resposta foi sim.
“O principal motivo é que acho mais fácil generalizar a polidez do que tentar descobrir a cada vez se devo ser educado ou não. A última abordagem pode levar a erros embaraçosos”, continua Krageloh, que também é professor de psicologia na AUT (Universidade de Tecnologia de Auckland), na Nova Zelândia.
Mas a resposta de Krageloh sobre como ele interage com robôs em contextos sociais não deve ser considerada um padrão. Na realidade, entender como os seres humanos se comportam diante dessas máquinas, por que tal comportamento e o que isso pode ensinar sobre a psicologia humana são perguntas basicamente impossíveis de serem propriamente investigadas pela ciência contemporânea. O motivo? Os robôs precisam evoluir mais.
Atualmente, essas máquinas não são muito refinadas a ponto de gerarem confusões em pessoas sobre se o equipamento é realmente um robô ou não. Graaf defende que “a interação social [com robôs] tem de se tornar, pelo menos, ao nível dos nossos animais de estimação, e penso que, atualmente, os robôs ainda não chegaram lá”. Para ela, isso é uma prerrogativa para desvendar mais detalhes sobre a interação entre pessoas e esses equipamentos.
Embora sem uma resposta, existem pistas. Wykowska, a pesquisadora que utiliza robôs para entender como o cérebro humano processa esses aparelhos, adotou equipamentos com características humanas em seus estudos. A cientista afirma que os robôs são vistos como máquinas pelos participantes das pesquisas em laboratório que ela desenvolve. Mesmo assim, foi visto que mecanismos do cérebro humano ativados quando em interação com outras pessoas podem ser também estimulados em contato com esses robôs.
A tendência de atrelar características humanas a outros seres vivos –ou mesmo inanimados– é levantada por Wykowska como uma possível explicação para esse fenômeno observado nos estudos da cientista. Dessa maneira, mesmo que seja óbvio que robôs não são seres vivos, a psicologia humana ativaria certos mecanismos que os tratariam como se eles fossem.
“Os seres humanos têm uma probabilidade muito elevada de antropomorfizar coisas em geral. Pense na frente de um carro, as pessoas veem um rosto lá. Pense na Lua, as pessoas também veem um rosto lá”, afirma a pesquisadora.