O tempo hábil para acesso à rede e a tributação de equipamentos estão entre os critérios a serem analisados pelas empresas de data centers ao escolher um país para implementação de seus projetos.
A perspectiva é da Ascenty, uma joint venture de infraestrutura para data centers da Digital Reach e da Brookfield, que possui 24 centros de processamento de dados em operação, sendo 20 no Brasil e 17 apenas no estado de São Paulo.
De acordo com Marcos Siqueira, CRO e chefe de estratégia da companhia, no setor de IA (inteligência artificial) o Brasil está competido com países como Austrália e Índia e será analisado por investidores sob a ótica do plano de negócios e dos custos.
“Não estou falando apenas do custo do kWh (quilowatt-hora), mas dos custos dos equipamentos que eles vão colocar dentro dos data centers. Para você importar uma GPU, que é o processador associado à IA, a carga tributária é muito elevada. Os investimentos de empresas de tecnologia em seus equipamentos são maiores do a que infraestrutura e a questão tributária acaba impactando de alguma forma”, disse Marcos Siqueira em seminário sobre o tema promovido pelo Poder360.
ATRASOS NA CONEXÃO À REDE LIMITAM CRESCIMENTO DOS DATA CENTERS NO BRASIL
Outros pontos levantados por Siqueira foram o fornecimento de energia constante e o prazo para conexão dos projetos à rede de energia elétrica, já que os “players não têm disponibilidade para aguardar cinco anos para operacionalizar o centro de armazenamento de dados e começar a prestar o seu serviço”.
Ele também defendeu a criação de um marco legal específico para data centers no Brasil, com integração entre agências reguladoras, órgãos ambientais, governos estaduais e municipais, visando acelerar os trâmites e garantir segurança jurídica aos investidores.
REGULAMENTAÇÃO DA IA NO BRASIL
Em 2024, o Senado aprovou o projeto de Lei n° 2338/2023, que busca estabelecer um marco regulatório para a criação, desenvolvimento e uso ético da IA no país. Atualmente, a proposta está em análise pela Câmara dos Deputados e o presidente da Casa, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou a criação de uma comissão especial para analisar a medida.
No evento, o senador Eduardo Gomes (PL-TO), destacou que os próximos meses serão de discussões sobre o projeto, que deve retornar ao Senado para sua conclusão.
“A vinda dos data centers é uma possibilidade interessante de ajuste do setor elétrico, que mudou nos últimos anos. Acabamos de discutir uma reforma tributária e é preciso propor uma discussão da tributação em cima de componentes importados fundamentais para geração e implementação dos data centers no Brasil”, destacou.
DEMANDA REPRIMIDA E DESAFIOS REGULATÓRIOS
Os tributos também foram apontados por Gustavo Estrella, CEO da CPFL Energia, como um dos desafios para atração do segmento, além do tempo de conexão dos projetos e a regulação do tratamento de dados.
Segundo ele, o Brasil tem capacidade para receber US$ 50 bilhões em investimentos nos próximos dez anos por meio do setor de data centers, mas é preciso acelerar a construção de infraestrutura, ampliar redes de transmissão e garantir segurança regulatória.
Estrella destacou que a CPFL recebeu 6 GW de demanda de pedidos para data center ao longo de 2024, sendo que a maioria foi negado por serem duplicadas ou “irreais”. Em sua avaliação, o setor elétrico está estruturado com uma regulação madura e pronta para receber esse tipo de investimento, mas há dificuldade em autorizar conexões de carga desta escala.
“Estamos diante de um mercado diferente, com comportamento diferente, e numa escala nunca vista. Talvez pensar em um modelo de arcabouço para garantir a atração da indústria e, eventualmente, assumir algum tipo de risco para o país”, declarou o executivo.
Presente no evento, Thiago Barral, secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento do Ministério de Minas e Energia (MME), afirmou que o risco está nas discussões sobre data centers no Brasil, tema que envolve diretamente a questão da soberania digital, sendo que o governo federal está disposto a assumir riscos ao antecipar decisões de investimento em infraestrutura de rede elétrica.