Em janeiro de 2023, os fundadores do Instagram, Mike Krieger e Kevin Systrom, lançaram a rede social Artifact. A plataforma consistia em um feed de notícias e textos selecionados por inteligência artificial, que seria moldada conforme o uso e interesse do usuário.
“Descubra artigos interessantes e fique por dentro das manchetes importantes. Artifact é um aplicativo gratuito que aprende seus interesses e traz para você os melhores artigos que a web tem a oferecer. Tornamos mais fácil acompanhar as coisas em que você está interessado enquanto filtramos o ruído”, era o anúncio à época do lançamento.
Na sexta-feira, 12 de janeiro, em post no Medium, o CEO Kevin Systrom anunciou o fim da ferramenta. O encerramento definitivo da curadoria de notícias vai até o fim de fevereiro.
“Nós construímos algo que um grupo de usuários amam, mas nós concluímos que as oportunidades de mercado não são grandes o suficiente para assegurar investimentos”, escreveu.
O #Hashtag analisa a seguir alguns erros que levaram ao fim precoce do aplicativo.
“TikTok de textos”
A dupla apostou tudo na capacidade de a inteligência artificial entregar aos usuários o que eles gostariam de ler. Por isso, acabou sendo conhecido como “TikTok de textos”. A rede chinesa tem um sistema de recomendação, o For You, extremamente potente. Depois disso, as outras redes, como o Instagram, aperfeiçoaram seus mecanismos de inteligência artificial.
No entanto, qualquer produto que vem a ser o “novo” alguma coisa carrega uma responsabilidade que é praticamente irreplicável —assim como nunca houve um novo Pelé no futebol.
Mercado de notícias
Na era dos microtextos do X (antigo Twitter) e dos vídeos curtos do TikTok, recomendar notícias é entrar em um terreno completamente diferente. O jornalismo profissional é outro desde a internet, com a forte concorrência do Google e das redes sociais. Influenciadores e produtores de conteúdo retiraram o monopólio da distribuição de informação dos veículos de imprensa.
Systrom e Krieger são especialistas na construção de redes sociais —ter fundado uma rede como o Instagram é para poucos. Mas no mercado de notícias são inexperientes, como de certa forma reconheceram ao dizerem que “as oportunidades de mercado não são grandes o suficiente para assegurar investimentos”.
O gigante Google
Ao longo das últimas duas décadas, os veículos passaram a ser cada vez mais dependentes do Google como fonte de tráfego. Os usuários foram abandonando o costume de abrir uma homepage para buscar notícias no Google. A gigante de tecnologia, ciente disso, apostou nos últimos anos no aprimoramento de suas recomendações de notícias nos smartphones.
O Google Notícias tem inclusive, na aba “Para você”, recomendações com base no interesse do usuário. Ou seja, exatamente o que o Artifact queria criar do zero, enquanto o Google é visitado quase 90 bilhões de vezes por mês, segundo o Similarweb.
Era da inteligência artificial
Desde o boom do ChatGPT no fim de 2022, a maioria dos setores da economia tentaram, de alguma forma, incorporar inteligências artificiais a suas rotinas. Porém, a era da IA está apenas começando, e a maioria dos serviços e produtos que estão sendo lançados agora ficarão pelo caminho. E Systrom e Krieger sabem disso, tanto que Systrom escreveu no Medium: “Nós vivemos um momento empolgante em que a inteligência artificial está mudando tudo que nós tocamos, e as oportunidades para novas ideias parecem sem limites”.
Sucesso duas vezes
Os dois empreendedores estão em um dilema. Por um lado, o mundo da tecnologia está cheio de histórias daqueles que fracassam algumas vezes até emplacar um sucesso. Por outro, eles já criaram um dos maiores sucessos da história das redes sociais, o Instagram, e é muito raro o raio cair duas vezes no mesmo lugar.
Mark Zuckerberg, o criador do Facebook, que o diga. Ele tenta emplacar o metaverso há alguns anos, mas até agora continua sendo conhecido como o fundador do Facebook. O Instagram e o WhatsApp, que pertencem à Meta, foram aquisições, e seu mérito foi ter abocanhado quando eram ameaças.
Outro exemplo desse universo é o do engenheiro turco Orkut Büyükkökten, que criou o Orkut em 2004, num projeto experimental quando trabalhava no Google. Ele está há anos tentando criar um “novo Orkut”, mas nenhum projeto emplaca.