Na última quinta-feira (8), a fumaça branca saindo da chaminé da Capela Sistina indicou que um novo papa havia sido escolhido. Robert Francis Prevost, que havia sido nomeado cardeal pelo papa Francisco, é natural de Chicago e escolheu o nome Leão 14 para representar seu papado.
Em frente à Basílica de Pedro uma multidão se reunia para ouvir as primeiras palavras do novo papa. Ao mesmo tempo, o monitoramento de redes sociais e clipping da Palver indicou uma intensa atividade nos grupos públicos de WhatsApp, com novas informações sobre Robert Prevost sendo relevadas a cada segundo.
O cardeal Prevost usava sua conta do X para expressar suas opiniões e, principalmente, compartilhar notícias sobre o Vaticano. Alguns de seus tuítes foram rapidamente reproduzidos nas outras redes sociais, como, por exemplo, aquele em que compartilha uma matéria na qual o vice-presidente dos Estados Unidos, J. D. Vance, é citado com os dizeres “J. D. Vance está errado” no que diz respeito a como o cristianismo considera o amor pelo próximo.
Nos grupos públicos de Whatsapp, os usuários de direita rapidamente celebraram o fato de que o novo papa é americano, ao que consideraram, em um primeiro momento, uma vitória de Donald Trump, apontando que o presidente americano influenciou o processo decisório sobre o novo líder da Igreja Católica.
Para reforçar o argumento, utilizaram uma postagem de Trump em sua rede social Truth Social em que parabeniza Prevost e expressa interesse em encontrá-lo em breve.
Já nos grupos de esquerda, os usuários demonstraram, inicialmente, ceticismo quanto ao possível conservadorismo do cardeal Prevost. Conforme novas informações apontavam que o novo papa segue uma linha parecida com a do papa Francisco, o ceticismo começou a se transformar em motivo de comemoração ao que os usuários denominaram de derrota do conservadorismo.
No entanto, o que realmente se destacou no monitoramento da Palver foi o fato de que uma parcela da direita usou o alto engajamento do tema para tentar vincular com a fraude do INSS.. Essa tentativa de vinculação dos temas se iniciou no sábado (3), antes mesmo do início do conclave, na quarta-feira (7).
Nas mensagens iniciais sobre essa tentativa de vincular os dois temas, a direita começou a divulgar vídeos acusando o presidente Lula de ser o titular de uma conta no Banco do Vaticano com bilhões de reais.
Após a escolha do novo papa, as mensagens se intensificaram e também se diversificaram, mantendo, contudo, a linha narrativa de que uma parte do dinheiro desviado do INSS foi levado ao Vaticano pelo avião presidencial na ocasião do funeral do papa Francisco.
Esse tipo de narrativa desconexa da realidade é bastante comum nos grupos de WhatsApp. Nessa situação, no entanto, tem como pano de fundo uma estratégia de comunicação digital.
Destaca-se o volume de mensagens contando a mesma linha argumentativa, aproximadamente 30 menções a cada 100 mil mensagens trocadas na plataforma. Esse volume indica que há uma adesão orgânica à história que está sendo contada.
O que chama a atenção nesse contexto é que, ao vincular a fraude do INSS com o Vaticano e à popularidade da discussão sobre o papa Leão 14, a direita evita que um tema ofusque o outro.
Pelo contrário, provoca o engajamento com o tópico seguinte, apesar da narrativa fantasiosa, e mantém a fraude do INSS em evidência no debate online, dominando, dessa forma, a pauta de discussão, que, nesse caso, é prejudicial ao governo.
Enquanto há ainda uma preocupação, tanto por parte do governo como da imprensa, em mensurar a repercussão do vídeo do Nikolas Ferreira sobre a fraude do INSS e analisar qual foi o dano causado, uma parcela da direita faz uso da disseminação de desinformação para preparar o próximo ataque e colar a pecha de corrupção em Lula e em seu governo.