Robôs no WhatsApp são acionados para atacar Gleisi – 05/05/2025 – Encaminhado com Frequência

Na última quarta-feira (30), por volta das 6h, milhares de contas com comportamento automatizado começaram a disseminar mensagens falsas ou descontextualizadas que buscavam vincular a ministra Gleisi Hoffmann à recente crise no INSS.

A movimentação foi nos mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp monitorados pela Palver, com padrões semelhantes aos já observados em outras campanhas de desinformação coordenadas.

A onda de disparos ocorre um dia após a Mesa Diretora da Câmara recomendar a suspensão, por seis meses, do mandato do deputado Gilvan da Federal (PL-ES) por quebra de decoro parlamentar.

Durante uma sessão, o deputado chamou Gleisi de “prostituta” ao se referir ao codinome “Amante” — nome que consta na lista da Odebrecht entregue à Lava Jato, em um processo no qual a ministra foi absolvida por unanimidade pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2018.

Logo após a repercussão da possível suspensão de Gilvan no Congresso, teve início uma sequência coordenada de mensagens que reciclavam links antigos, sobretudo de 2016, para insinuar que Gleisi estaria envolvida em esquemas de corrupção ligados ao INSS.

O material resgatado se refere a uma investigação sobre a empresa Consist, ainda em tramitação no STF, mas que não tem relação direta com a crise atual que levou à queda do ministro Carlos Lupi, da Previdência.

As mensagens, no entanto, conectam artificialmente os dois episódios para sugerir continuidade nos desvios e apontar a ministra como peça-chave. Em seguida, passaram a circular afirmações de que Gleisi seria contra a demissão de Lupi porque desejaria “continuar roubando”.

Essa leitura ignora seu papel como ministra das Relações Institucionais, responsável por preservar a articulação política do governo —especialmente com partidos como o PDT.

No meio da manhã, outro conteúdo começou a se espalhar com força: um vídeo gravado em 2017 em que uma mulher hostiliza Gleisi dentro de um avião, acusando-a de corrupção e de roubar dinheiro dos aposentados.

O vídeo foi compartilhado como se tivesse ocorrido recentemente, sem qualquer menção à sua data real. Em 2019, a autora do ataque foi condenada a indenizar Gleisi por danos morais nesse caso. O vídeo constrói a sensação de que o “Brasil inteiro” já sabe a verdade sobre Gleisi e que as pessoas estão indignadas.

Por fim, começaram os disparos com manchetes afirmando que Gilvan poderá ser suspenso por ter chamado a ministra de “amante” —omitindo o uso do termo “prostituta”, que de fato foi o centro da acusação por quebra de decoro. A omissão distorce o sentido da sanção e transforma o deputado em vítima de censura por, supostamente, “denunciar a corrupção”.

A narrativa construída segue uma lógica muito clara e eficaz, típica de campanhas de desinformação. As mensagens não dizem exatamente o que acusam, mas organizam blocos de conteúdo que sugerem uma história sem nunca afirmá-la por completo.

Primeiro, associam Gleisi à crise do INSS com base em material antigo e sem relação direta com os acontecimentos atuais.

Depois, reforçam essa imagem com declarações supostamente recentes, como no vídeo antigo e no caso da demissão de Lupi. Por fim, transformam o deputado punido por agressão verbal em um suposto herói perseguido por “falar verdades”.

É a engenharia de opinião em funcionamento. Quando se examina em detalhe os grupos monitorados pela Palver, é possível perceber como os sentimentos de indignação são cuidadosamente provocados e encadeados.

A ministra não é apenas associada à crise —ela é feita de símbolo dela. E quem a ataca, mesmo com mentiras, vira mártir. É assim que se constroem vilões e heróis no novo campo de batalha de comunicação.


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Visto primeiro na Folha de São Paulo

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