Todo o mundo está cansado dos algoritmos, mas ninguém consegue largar deles. Mesmo quem fica alertando para os perigos das redes sociais passa boa parte do dia nelas. Os canais de TV que fazem editoriais pela regulação das empresas de tecnologia paradoxalmente postam seu conteúdo nelas (onde, aliás, alcançam mais audiência que no canal original!).
É como dizia Mark Fisher (talvez o maior profeta dos nossos tempos) no livro “Realismo Capitalista”: quem critica o sistema acaba por fortalecê-lo por estar inserido nele.
Por essa razão, uma atividade nobre é procurar por lugares online que não seguem a lógica dos algoritmos. Mesmo que muita gente não acredite mais neles, eles existem. E são laboratórios de outras possibilidades de vida digital.
Por exemplo, o Radio Garden (www.radio.garden). Trata-se de um globo terrestre online povoado por pequenos pontos em toda parte. Cada um deles é uma rádio daquele lugar. Você vai girando o globo e ouvindo estações como a Love101, de Kingston, na Jamaica. Ou a rádio Jamestown, transmitindo direto da ilha de Santa Helena. Ou ainda a rádio de Pechora, perto dos Urais, no noroeste da Rússia. Trata-se de um site que me enche de esperança. Não só porque amo rádio mas por ser um monumento sobre como a humanidade faz coisas grandiosas sem perceber nem planejar.
O site inspirou agora o TV Garden (www.tv.garden), que faz a mesma coisa, só que para televisão. Apesar de as opções serem mais limitadas, dá para ir girando o globo e assistindo a canais como o Balle Balle, de Nova Déli, ou a KNR TV, da Groenlândia (na hora em que cliquei transmitia dois garotos tentando jogar futebol na neve). O nome do projeto homenageia, talvez sem querer, a obra de mesmo nome do artista Nam June Paik (que faz uma falta danada no mundo de hoje).
Quem quiser descansar das mídias pode passear no site Falling Fruit (fallingfruit.org), que mapeia árvores frutíferas. Ele também é um mapa-múndi cheio de pontinhos. Ao clicar neles você descobre árvores frutíferas em toda parte. Por exemplo, o site me informa que existe uma mangueira na rua Aurélia Salazar Jorge, em São Bernardo do Campo, e que o mês em que ela frutifica é novembro. Quem inseriu essa informação é alguém que assina como Dani. No mundo todo há outras “Danis” que alimentam voluntariamente o site com informações sobre árvores frutíferas. Quem são essas pessoas? Queria oferecer o meu muito obrigado a cada uma delas.
Também gostaria de agradecer o pessoal que atualiza o Cities and Memory (citiesandmemory.com), que grava o som das cidades ao redor do mundo. Desde já, obrigado, Matheus Silva, que gravou o barulho ouvido no pôr do sol na Quadra 204 de São Sebastião, cidade-satélite de Brasília.
Se você não quer barulho nenhum, é só procurar o Quiet Parks (quietparks.org), organização que identifica e certifica lugares onde há silêncio natural, incluindo parques urbanos, residências e comunidades onde só se ouve a natureza.
Para quem fica reclamando dos algoritmos sem conseguir largar deles, tenho um conselho: vá carpir um lote! Ou melhor, um site onde não há algoritmo nenhum para carpir você.
READER
Já era: usinas nucleares gigantes e difíceis de construir
Já é: reatores nucleares modulares compactos
Já vem: bateria nuclear chinesa do tamanho de uma moeda, com energia para 50 anos (BV100)