A Meta não vai decidir quais publicações recebem rótulos das notas da comunidade nem o que estará escrito. Isso será decidido pelos colaboradores do sistema de moderação, afirmou o diretor de assuntos globais do conglomerado, Joel Kaplan, em entrevista à Fox News, nesta quinta-feira (13).
A nota da comunidade é uma observação adicionada a uma publicação considerada enganosa, incompleta ou descontextualizada. Os próprios usuários da plataforma sinalizam a necessidade de intervenção, como ocorre no X (ex-Twitter), de Elon Musk, desde 2022.
De acordo com Kaplan, os colaboradores não poderão aplicar penalidades nem limitar a circulação das publicações que etiquetarem. Essa, disse ele, era uma característica do programa de checagem por terceiros, encerrado nos Estados Unidos em janeiro.
Os checadores profissionais, no entanto, negam que tivessem autonomia para intervir sobre as publicações. “As punições são responsabilidade da Meta, o que fazemos é indicar se um conteúdo é falso”, disse, em entrevista à Folha, a CEO da agência Lupa, Natália Leal.
Para Kaplan, o programa de checagem foi contaminado por vieses. “Tínhamos um programa de verificação de fatos por terceiros, que era bem-intencionado no início, mas acabou se mostrando muito suscetível à influência da política partidária e comprometeu muito da credibilidade do sistema.”
O CEO do conglomerado de redes sociais, Mark Zuckerberg, anunciou mudança no sistema de moderação sob a promessa de “restaurar a liberdade de expressão” em suas plataformas. A Meta usará, para avaliar a relevância dos comentários dos colaboradores, o mesmo algoritmo empregado pelo X —o código está disponível em domínio público.
Participarão da iniciativa donos de contas no Instagram ou no Facebook que se inscreveram em uma lista de espera a fim de contribuir com as notas da comunidade. De acordo com o diretor de assuntos globais, há “algumas centenas de milhares de inscritos” e parte desse grupo terá acesso à ferramenta a partir da próxima terça-feira (18).
A seleção de colaboradores será gradual e aleatória. Além disso, existirá um período de testes de organização dos comentários mais relevantes, antes da publicação de qualquer nota da comunidade.
O primeiro país que receberá a ferramenta será os Estados Unidos. A big tech costuma testar mudanças de suas políticas primeiro em território americano, antes de expandi-las para outros mercados.
No Brasil, o sistema de checagem por terceiros ainda não foi encerrado. Tampouco existiu anúncio sobre início do sistema de notas da comunidade para os usuários brasileiros.
“O algoritmo só aplica uma nota comunitária quando pessoas que normalmente discordam concordam que algo é enganoso”, disse Kaplan.
“O programa de notas comunitárias é apenas sobre fornecer informações adicionais e contexto para que as pessoas possam tomar suas próprias decisões, mas não aplica penalidades de distribuição nem limita o fluxo de informações através do algoritmo”, acrescentou.
No X, apenas 8% das notas da comunidade do X chegavam ao restante dos usuários, de acordo com levantamento da Lupa feito no ano passado, o que a agência de checagem considera um sinal de ineficiência, sobretudo em assuntos que geram divergência.
Um dos primeiro a adotar esse sistema de moderação, Elon Musk, por outro lado, disse que as notas da comunidade do X estavam “dominadas por governos e pela mídia tradicional”, após publicações do presidente americano Donald Trump receberem observações.
Apesar de ter flexibilizado as regras de checagem de desinformação, a Meta afirma que ainda fará moderação de publicações possivelmente criminosas, como exibição de violência explícita e pornografia infantil. O conglomerado, no entanto, sinalizou que teria uma postura menos proativa e mais dependente da denúncia por usuários.