IA e lançamentos deixam teles de lado em edição pop do MWC – 08/03/2025 – Tec

A edição deste ano do MWC (Mobile World Congress), principal evento de telecomunicações do mundo, foi marcada por um lado pop que ofuscou discussões enfatizadas pelo setor nos últimos anos.

A feira chamou mais a atenção para lançamentos de produtos como smartphones e discussões sobre inteligência artificial e regulação econômica do que para questões como fair share —participação das big techs no investimento em infraestrutura— ou 5G.

Mas a relevância permanece, tendo recebido 109 mil participantes até o encerramento na quinta-feira (6), retornando ao patamar pré-pandemia. O evento também reuniu cerca de 2.900 expositores e os principais representantes do setor.

“O MWC é onde os setores se encontram, e o evento deste ano mostrou o quão rápido a tecnologia está transformando o mundo ao nosso redor. Desde redes impulsionadas por IA até o futuro da mobilidade inteligente, as discussões desta semana em Barcelona definirão o tom para o ano que está por vir”, disse John Hoffman, CEO da GSMA, entidade que reúne as operadoras e organiza o evento, em comunicado.

O tal encontro entre os setores, no entanto, era visivelmente desigual no evento. O trânsito de pessoas no corredor com marcas de gadgets contrastava com aqueles com empresas voltadas a outros negócios.

Mas também não é à toa, já que as fabricantes apresentaram nos estandes produtos recém-lançados e cobiçados, como a Xiaomi e seu 15 Ultra e a Realme com um protótipo compatível com lentes de câmeras profissionais. Também pipocaram em espaços diversos robôs carismáticos, mas ainda longe da viabilidade, e sistemas de IA para ajudar no dia a dia.

O lado de produtos também evidenciou a hegemonia chinesa entre as fabricantes, com Huawei, Xiaomi, Oppo, Realme, Honor, Lenovo (dona da Motorola). A maior do Ocidente, Apple, não participa do evento, enquanto marcas como Nokia e Ericsson passaram a desempenhar outros papéis no setor.

De acordo com a consultoria Counterpoint, no mercado de smartphones havia 720 marcas ativas em 2017, melhor ano do setor com 1,5 bilhão de aparelhos vendidos. Hoje são 250, das quais apenas cerca de 30 têm alcance internacional.

Por parte das operadoras, um incômodo relacionado foi ecoado em painel com os representantes das europeias Deutsche Telecom, Vodafone, Orange e Telefónica.

Os executivos criticaram a regulação excessiva da União Europeia que impediu uma consolidação no setor e levou a um atraso em relação aos equivalentes asiáticos e americanos.

“A China tem três operadoras, a Índia tem três operadoras, e elas estão prosperando”, disse Tim Hottges, CEO da Deutsche Telecom, na segunda-feira (3) após defender a existência de um equivalente europeu ao Doge (Departamento de Eficiência Governamental) de Elon Musk.

Além desse painel e das salas reservadas para negócios, o setor recebeu mais atenção somente na palestra de abertura, na qual o diretor-geral da GSMA, Mats Granryd, destacou a importância da comunicação móvel para a economia mundial, citando um impacto de US$ 11 trilhões até 2030.

Mas a regulação também apareceu no painel com uma das estrelas do MWC, Arthur Mensch, fundador da startup de IA Mistral. Segundo ele, o principal problema da UE em relação ao desenvolvimento tecnológico não é o excesso de regras, mas a fragmentação do mercado.

“O fato de termos 27 empresas de telecomunicações em vez de três significa que temos que manter mais de 90 conversas antes de começar a fazer algo”, disse.

Já Brendan Carr, presidente da agência reguladora das comunicações dos EUA (FCC) indicado por Donald Trump, criticou em outro painel uma suposta interferência do DSA (Digital Services Act) na liberdade de expressão da Europa.

“Se houver um impulso na Europa para adotar regras protecionistas que tratem de forma desigual em relação às empresas de tecnologia dos EUA, o governo Trump deixou claro que vamos nos manifestar e defender os interesses das empresas americanas”, disse.

Além de Mensch, o evento também recebeu outras figuras pop do setor, como o escritor Scott Galloway, o futurologista Ray Kurzweil, o cofundador da Apple, Steve Wozniak, e a CEO da Agility Robotics, Peggy Johnson, para discutir tecnologia.

Considerado um “sucesso retumbante” pela organização, o MWC deste ano ainda ressurge em versões locais para Xangai, em junho, e uma inédita em Doha, no Catar, em novembro, de olho no investimento digital do Oriente Médio.

O repórter viajou a Barcelona a convite da Honor

Visto primeiro na Folha de São Paulo

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