Trump diz que herdou ‘caos econômico’ e pressiona o Fed por corte da taxa de juros
Em discurso no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, o presidente também prometeu ‘o maior corte de impostos da história americana’ e criação de tarifas para quem não quiser produzir nos Estados Unidos. Trump diz que ‘herdou caos econômico’ de governo Biden
O presidente Donald Trump discursou nesta quinta-feira (23) no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e disse que vai exigir que as taxas de juros caiam “imediatamente”.
A fala marcou sua primeira crítica à condução dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) desde que assumiu o cargo há três dias.
“Com os preços do petróleo caindo, exigirei que as taxas de juros caiam imediatamente e, da mesma forma, elas deveriam cair em todo o mundo”, disse.
O Fed se reúne nos dias 28 e 29 de janeiro, com a expectativa de que as taxas de juros sejam mantidas na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.
O BC americano iniciou um ciclo de redução das taxas de juros americanas em setembro, com o primeiro corte em quatro anos. A inflação nunca chegou à meta de 2% anuais, mas está abaixo de 3% desde julho e diretores do Fed acreditavam que os preços estavam em boa trajetória.
De lá para cá, o Fed reduziu as taxas mais duas vezes, sempre reforçando que seria necessário manter a cautela e analisar os dados da economia para tomar novas decisões.
A chegada de Trump ao poder adicionou um elemento de incerteza aos cálculos, pois as políticas propostas pelo novo presidente têm potencial de aumentar a inflação dos EUA. O protecionismo econômico, a ameaça de aplicação de tarifas e até a deportação de imigrantes podem aumentar os custos de bens e serviços, prejudicando os preços.
Em novembro, logo após as eleições americanas, o Fed justificou a diminuição do ritmo de corte dos juros ao dizer que “as perspectivas econômicas são incertas e o comitê está atento aos riscos”. Trump não foi mencionado, mas o recado foi entendido.
Após a reunião, o presidente do Fed, Jerome Powell, se recusou a responder se havia alguma preocupação com pressões de Trump durante seu mandato, mas reforçou que não se sentia ameaçado.
“Não é permitido por lei [que um presidente demita um presidente do Fed]”, disse.
Decisões de Donald Trump são comentadas no Fórum Econômico Mundial
Herança de Biden
Trump também criticou a condução econômica da gestão do ex-presidente Joe Biden, listando medidas que tomou para reverter o que chamou de “caos econômico”.
“Minha administração está agindo com uma velocidade sem precedentes para corrigir os desastres herdados de um grupo de pessoas totalmente ineptas e resolver todas as crises que nosso país enfrenta. Isso começa com o confronto com o caos econômico causado pelas políticas fracassadas da última administração”, afirmou Trump.
O presidente mencionou que, nos últimos quatro anos, o governo americano acumulou US$ 8 trilhões em gastos deficitários, impôs restrições energéticas que “destruíram a nação” e regulamentações “paralisantes”.
“O resultado é a pior crise de inflação da história moderna e taxas de juros altíssimas para nossos cidadãos e até mesmo em todo o mundo. Os preços dos alimentos e de quase tudo o mais dispararam”, disse Trump.
Trump criticou o Biden por “perder o controle da inflação e da fronteira”. Ele afirmou que o gasto total do governo este ano é US$ 1,5 trilhão maior do que o projetado quando deixou o cargo, e o custo do serviço da dívida é mais de 230% maior do que o projetado em 2020.
Trump ressaltou que assinou uma série de medidas para corte de gastos e desregulamentações, incluindo um congelamento federal de contratações, o encerramento do “New Deal verde” e o “mandato do veículo elétrico”, um apelido que deu às políticas de descarbonização e eletrificação de veículos iniciadas pelo ex-presidente Joe Biden.
O termo “mandato do carro elétrico” surgiu da preferência do novo governo pelo petróleo e a aversão às políticas de sustentabilidade. No primeiro dia de governo, a Casa Branca divulgou uma nota com as prioridades do novo mandato, com uma seção dedicada a “fazer a América acessível e dominante em energia novamente”.
“Isso não apenas reduzirá o custo de praticamente todos os bens e serviços, mas também tornará os Estados Unidos uma superpotência manufatureira e a capital mundial da inteligência artificial e das criptomoedas”, disse.
Trump em Davos
Fabrice COFFRINI / AFP
Corte de impostos
Trump reforçou seu discurso protecionista, com o objetivo de fortalecer a economia interna e limitar a concorrência estrangeira. Para isso, prometeu usar as maiorias conquistadas na Câmara e no Senado para aprovar “o maior corte de impostos da história americana”, beneficiando trabalhadores, produtores e fabricantes locais.
Mas o presidente americano condicionou empresas a produzirem nos EUA, prometendo um dos menores impostos do mundo.
“Minha mensagem para todas as empresas do mundo é muito simples: venha fazer seu produto na América, e daremos a você entre os menores impostos de qualquer nação na terra”, disse.
Trump garantiu que os impostos seriam reduzidos “muito substancialmente”, ainda mais do que nos cortes do seu primeiro mandato, e que os EUA seriam o “melhor lugar do mundo” para criar empregos, construir fábricas e expandir negócios.
Segundo ele, o imposto corporativo foi reduzido de 40% para 21%, e agora Trump pretende reduzi-lo a 15% para empresas que fabricarem seus produtos nos EUA.
“Mas se você não fizer seu produto na América, o que é sua prerrogativa, então, muito simplesmente, você terá que pagar uma tarifa. Quantias diferentes, mas uma tarifa que direcionará centenas de bilhões de dólares, e até trilhões de dólares, para nosso tesouro para fortalecer nossa economia e pagar dívida”, afirmou.
Para justificar essa medida, Trump criticou a União Europeia e o Canadá, destacando os déficits comerciais dos EUA com essas regiões.
“A UE nos trata muito, muito injustamente, muito mal. (…) Eles não aceitam nossos produtos agrícolas, não aceitam nossos carros, mas enviam carros para nós aos milhões. (…) Temos centenas de bilhões de dólares de déficits com a UE e ninguém está feliz com isso e vamos fazer algo a respeito”, disse.
Sobre a China, Trump disse que mantém boas relações com o presidente Xi Jinping e que sua intenção é garantir “um campo de jogo nivelado”. Durante a campanha, ele ameaçou impor tarifas de até 60% aos produtos chineses, mas desde que retornou à Casa Branca, suavizou esse discurso.
“Não queremos tirar vantagem. Temos tido déficits massivos com a China. Biden deixou isso sair do controle, com um déficit de US$ 1,1 trilhão. É ridículo. É uma relação injusta e temos que torná-la justa”, disse Trump.
Trump assina decretos
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