Nikolas estreia era de manipulação ao espalhar desconfiança
O que mais se escuta é que o vídeo do deputado espalhou uma fake news, já que o governo em nenhum momento disse que taxaria o Pix. Então por que uma verdadeira onda de temor e desconfiança sobre a ferramenta se espalhou como um rastilho de pólvora pelo país todo?
Fronteira do discurso
O vídeo do deputado inaugura por aqui uma nova fase no debate sobre a fronteira entre o discurso crítico ao governo e a desinformação. Campanhas de desinformação usualmente se valem de contas inautênticas (robôs) e outros meios de espalhar um discurso nas redes. Aqui temos um vídeo do deputado federal mais votado do país que, a partir de um roteiro bem produzido, levanta suspeitas de que o Pix poderia ser taxado. As provas que ele apresenta? Duas ou três situações em que o governo disse uma coisa e fez outra.
Foi como se ele tivesse mostrado uma carta com a Dama de Ouros em rede nacional. A diferença entre o candidato da Manchúria e todos aqueles que passaram a criticar o governo e a abandonar o uso do Pix é que o sentimento de desconfiança com relação ao governo não veio de uma lavagem cerebral preparada em cativeiro, mas sim de anos de formação de convicções antipetistas. O vídeo do deputado pluga uma dúvida em cima de um sentimento já amplamente instalado em parte da população (conforme comprovam as pesquisas de avaliação do governo).
Vale prestar atenção na linguagem usada pelo deputado. Ele mesmo afirma que o Pix não seria taxado, mas que também não duvidaria que pudesse ser. É o tipo de discurso que dificulta qualquer ação de moderação de conteúdo por parte das plataformas. Não é uma afirmação falsa, já que a mensagem soa mais como uma ponderação. É a versão 2.0 do “tire as suas próprias conclusões”, frase muito usada pelo ex-presidente para evitar dizer o que poderia levar à remoção do post. Não dá também para colocar no mesmo balaio das publicações que incitam violência fora das telas e que ultrapassam os limites da liberdade de expressão.
A decisão do governo em revogar a instrução normativa sobre monitoramento das transações com Pix foi outro ponto marcante desse novo capítulo sobre as disputas narrativas na rede. Já se sabe que o desmentido não engaja tanto quanto a notícia falsa. Mas ao revogar o ato normativo o governo deu de bandeja para a oposição a impressão de que os temores eram fundados. As suspeitas teriam, no final das contas, um fundo de verdade.