Estamos diante de novos paradigmas no que diz respeito ao papel da tecnologia na medicina. O momento é tão favorável que está sendo capaz até de alcançar a superação de antigas rivalidades.
Por exemplo, os pesquisadores das universidades de Stanford e Berkeley (arquirrivais históricas), Dr. Walter Greenleaf e Dr. David Lindeman estavam juntos no SXSW 2024, no painel sobre inteligência artificial na luta contra a demência, onde ressaltaram que, com os avanços da medicina, a expectativa de vida humana deve crescer tanto que doenças como demência podem representar um risco para a sociedade comparável ao aquecimento global, caso não sejam seriamente abordadas.
O estado de saúde da população tem repercussões que afetam amplamente a sociedade. Precisamos, então, encontrar soluções que possam dar conta dos desafios sociais, econômicos, financeiros, políticos, mercadológicos, além, é claro, dos pessoais, que afetam o indivíduo física e psicologicamente.
Qual o pior cenário a encarar, quando estamos diante de uma doença grave? Sentir-se sozinho, sem a segurança do olhar meticuloso de um médico experiente por perto? Ser soterrado pelas dúvidas sobre o melhor tratamento a seguir? Chegar num hospital em situação de emergência e ver que seus exames anteriores não estão no sistema? Enfrentar dificuldade para obter um diagnóstico ou demora na descoberta da doença, deixando assim, pouca margem ao que pode ser feito?
Uma grande transformação está em curso e muitas dessas situações desfavoráveis estão prestes a ser superadas. Os piores cenários poderão ser evitados com o uso dos “wearables”.
O termo vem do inglês wear —vestir, e se refere a diferentes tipos de “gadgets”— aparelhos funcionais geniais, capazes de diagnosticar, propor tratamentos, inverter a lógica da hospitalização acompanhando o paciente em casa, preparando familiares e cuidadores com treinamentos específicos, ensinando a melhor maneira de agir no dia a dia e também em situações de emergência e o mais genial: prevenindo todo tipo de doenças.
Tudo isso e muito mais estará ao nosso alcance num futuro próximo. São os benefícios do aprendizado das máquinas (machine learning), que prometem grandes avanços na medicina.
O queridinho do momento é o “smart ring”, um anel que faz monitoramento do sistema cardiovascular e das fases do sono.
Durante a conferência de inovação que aconteceu na semana passada em Austin, além de ter sido citado por vários especialistas em painéis sobre monitoramento e prevenção durante o SXSW 2024, os smart rings estavam nos dedos dos CEOs e palestrantes mais quentes do evento.
O anel Oura, por exemplo, faz o acompanhamento dos dados relativos a oxigênio, batimento cardíaco e sono, de modo muito preciso, pois não é invasivo. O fato de não ter uma tela e ser apenas um anel faz com que a pessoa possa usá-lo o tempo todo.
A precisão do aparelho vai aumentado à medida que o aparelho vai coletando as informações; enquanto a bateria do iPhone precisa ser carregada todo dia, a do anel dura uma semana inteira.
Isso traz uma confiabilidade maior para os dados, principalmente para registros do tempo e da profundidade do sono.
O anel mostra, todas as manhãs, o estado em que se encontra aquele corpo para viver o dia. Por exemplo, quando a pessoa ingeriu álcool na noite anterior, sua disposição fica reduzida e ao ser informado disso cria-se a possibilidade do usuário escolher melhores hábitos.
Quanto mais é usado, o anel vai ficando mais preciso e se tornando inclusive capaz de prever os melhores horários para que se inicie o ciclo do sono.
Além dos anéis, já existem pulseiras, óculos, capacetes, headphones, faixas para botar na testa, além, é claro, dos relógios e celulares que já estão completamente inseridos em nossas vidas e agora assumem também o protagonismo da revolução médica que se inicia.
Nesta fase de alfaiataria médica, esses dispositivos fantásticos são ajustados com perfeição ao corpo do paciente. Estamos vivendo uma convergência tecnológica onde aparelhos funcionais e pesquisadores multidisciplinares se uniram para desenvolver uma linha de produção capaz de salvar vidas.
Os especialistas batizaram de medicina de precisão, esta nova fase totalmente individualizada, onde protocolos padronizados, que muitas vezes botam o paciente em risco, irão sair de cena.
Dentro de muito pouco tempo não vamos mais nos lembrar da época primitiva em que a medicina fazia suas intervenções de forma generalizada e invasiva.
A partir destas mudanças qualquer tipo de tratamento que não houver sido exclusivamente desenhado para cada paciente de acordo com suas características genéticas, seus hábitos e sua localização geográfica, será apenas uma lembrança lamentável na história de nossa civilização; e as práticas de coleta de exames dolorosas feitas a partir de furos em nossas veias e cortes em nossa carne, bem como tratamentos invasivos e perigosos serão plenamente superados.
Junto com estas transformações fabulosas, no entanto, estamos diante de cenários futuristas em que os seres humanos podem ser transferidos para cidades inteligentes altamente imersivas.
Assim, porteiros automatizados e interfaces cerebrais reportariam aos centros de dados detalhes da vida dos moradores, desenhando um ambiente guiado pelas informações terapêuticas sob a justificativa de que isso fosse capaz de garantir a saúde de todos.
Distopia? Conquista fantástica? O que lhe parece?