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Chip cerebral: Musk diz que paciente movimentou mouse – 20/02/2024 – Tec

O dono e fundador da Neuralink, Elon Musk, afirmou nessa segunda-feira (19) que o primeiro paciente humano que recebeu um implante cerebral de um chip da Neuralink conseguiu controlar um mouse usando apenas os seus pensamentos.

Além disso, Musk afirmou que o paciente parece ter se recuperado completamente. “O progresso é bom, e o paciente parece ter se recuperado completamente, sem efeitos colaterais que estamos cientes. O paciente é capaz de mover um mouse pela tela apenas pensando”, disse Musk usando o Spaces da plataforma de mídia social X, antigo Twitter.

Musk afirmou que a Neuralink está tentando fazer com o que paciente realize o maior número possível de cliques de botão no mouse.

A companhia foi procurada pela Reuters, mas não respondeu imediatamente ao pedido para dar mais informações.

A empresa implantou com sucesso um chip em seu primeiro paciente humano no mês passado, após receber aprovação para recrutar e testar o equipamento em humanos em setembro de 2023.

O estudo utiliza um robô para colocar cirurgicamente um implante, usando uma técnica de interface chamada cérebro-máquina, em uma região do cérebro que controla a intenção de movimento, informou a Neuralink, acrescentando que o objetivo inicial é permitir que as pessoas controlem um cursor ou um teclado de computador usando seus pensamentos.

Musk tem grandes ambições para a Neuralink, dizendo que facilitaria inserções cirúrgicas rápidas de seus dispositivos de chip para tratar condições como obesidade, autismo, depressão e esquizofrenia.

A Neuralink, que foi avaliada em cerca de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 24,65 bilhões) no ano passado, tem enfrentado repetidas críticas sobre os seus protocolos de segurança e também sobre a invenção. Um deles é o neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que afirmou em entrevista à Folha que o implante não traz avanço ou inovação.

“A vasta maioria dos casos de paralisia pode ser tratada com interfaces não invasivas como nós demonstramos nos últimos dez anos; eles [a Neuralink] estão vivendo de hype e bad sci-fi [ficção científica ruim]”, afirmou Nicolelis, que inventou uma máquina que usa a mesma técnica adotada pela Neuralink.

A interface cérebro-máquina começou a ser abordada por Nicolelis em estudos ainda em 1999, após anos de coletas de sinais de atividade neural de ratos e macacos. O primeiro experimento de sucesso em primatas é de 2002.

O grupo de Nicolelis, diferentemente da abordagem da Neuralink, colocou suas fichas em exoesqueletos, usados para auxiliar a mobilidade de pessoas com paraplegia ou tetraplegia. Em 2014, um voluntário chutou uma bola durante a abertura da Copa do Mundo do Brasil, na Arena Corinthians, com um dos equipamentos desenvolvidos por Nicolelis.

Hoje, no Brasil, já há unidades médicas que usam exoesqueletos no tratamento de pessoas com paralisia. Uma delas é a Rede de Reabilitação Lucy Montoro, na Vila Mariana, que tem equipamentos da empresa francesa Wandercraft e da russa ExoAtlet.

Vídeo da senadora Mara Gabrilli andando com auxílio de um exoesqueleto da Wandercraft viralizou nas redes no ano passado.

No caso desses aparelhos, o sensor de movimento fica no pescoço.

Também em 2004, pesquisadores liderados pelo engenheiro Kevin Warwick fizeram também um implante neural a partir de uma placa de eletrodos. O método ficou conhecido como Matriz de Utah e por ser mais invasivo.

Warwick fez vários testes com implante de máquina em si. Em 2004, ele publicou o livro “I, Cyborg” (Eu, ciborgue, em tradução livre), no qual relata os resultados dos arriscados experimentos.

A técnica foi aprimorada e depois usada por outro centro de pesquisas em neurociência, da Universidade de Pittsburgh.

O primeiro humano a receber um implante em Pittsburgh foi Nathan Copeland, que passou por cirurgia em 2014. Paralisado do peito para baixo após um acidente automotivo, Copeland passou a ser capaz de mover um braço mecânico, controlar um computador e jogar videogame com pensamentos.

Em 2022, o americano bateu o recorde de pessoa com mais tempo exposta ao procedimento chamado de Matriz de Utah, após sete anos e três meses implantado.

O implante na cabeça de Copeland é mais ou menos do tamanho de uma borracha. Os chips mais recentes são menores.

Como é o implante testado pela empresa de Musk

A Neuralink, por exemplo, usa um robô para colocar cirurgicamente um implante de interface cérebro-máquina em uma região do cérebro que controla a intenção de se mover, o córtex motor.

Os chips são tão pequenos e sensíveis que não podem ser implantados por mãos humanas, de acordo com o site da Neuralink.

Ainda segunda a empresa, o dispositivo contém mais de mil eletrodos, bem acima do registrado em outros implantes. Visa também neurônios individuais, na contramão da concorrência que têm como alvo os sinais de grupos de neurônios. Se funcionar, isso deve permitir um maior grau de precisão.

Na avaliação de Nicolelis, não há mercado para esses implantes. “A vasta maioria dos pacientes não quer sofrer uma neurocirurgia e correr riscos.”

“Tirando o marketing enganador do Musk, ele não está produzindo nada novo ou inovador na área”, acrescentou.

Com informações de Pedro S. Teixeira e da Reuters

Visto primeiro na Folha de São Paulo

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