Em 21 de dezembro, Willis Gibson, de 13 anos, colocou as mãos na cabeça e balançou para frente e para trás em uma cadeira de escritório em seu quarto em Stillwater, nos Estados Unidos, incapaz de acreditar no que acabara de realizar.
Sua tela havia congelado, e sua pontuação no Tetris estava em “999999”.
“Oh, meu Deus”, repetiu Willis em um tom alto, em um vídeo de seu triunfo que ele postou no YouTube na terça-feira, enquanto ele desaba em sua cadeira. “Não consigo sentir meus dedos.” Clique aqui para assistir ao vídeo.
Willis tornou-se a primeira pessoa a avançar tão longe na versão original do jogo de quebra-cabeça Tetris para o Nintendo e fez o jogo travar, alcançando uma façanha anteriormente creditada apenas à inteligência artificial.
Inventado pelo engenheiro de software Alexey Pajitnov e lançado para o console Nintendo em 1989, o Tetris apresenta uma série implacável de formas flutuantes na tela do jogador. O objetivo do jogo é evitar que os blocos se acumulem. Os jogadores podem girar os blocos e posicioná-los para formar linhas, que são excluídas conforme são formadas. É um dos games mais duradouros e celebrados da história.
Teoricamente, o jogo pode continuar para sempre se um jogador for bom o suficiente. Por anos, no entanto, o limite era considerado o Nível 29, quando os blocos começam a cair tão rapidamente que parece ser impossível para um humano acompanhar. Mas na última década, uma nova geração de jogadores de Tetris testou esses limites.
Willis chegou ao Nível 157, alcançando a “tela final” do Tetris, o ponto em que um videogame se torna impossível de jogar devido às limitações de sua programação. (No vídeo, quando o jogo congela, a tela mostra que Willis havia chegado ao Nível 18. Isso ocorre porque o código não foi projetado para avançar tão alto.)
Willis, que joga Tetris competitivamente desde 2021 sob o nome de Blue Scuti, disse em uma entrevista na terça-feira (2) que estava “extremamente animado”. Sua jornada no Tetris começou quando ele encontrou vídeos do jogo no YouTube e começou a reunir os equipamentos necessários para jogar uma versão antiga dele.
Ele disse que foi atraído pelo jogo por causa de sua “simplicidade”.
“É fácil começar, mas é realmente difícil dominá-lo”, afirmou na entrevista, que foi concedida após Willis finalizar uma tarefa doméstica. Ele recolhia objetos na máquina de lavar louça quando recebeu uma ligação de um repórter do New York Times, de acordo com a sua mãe, Karin Cox, 39.
Cox comprou para seu filho uma versão de um console Nintendo chamado RetroN, que usava o mesmo hardware do console Nintendo original, de uma loja de penhores, além de uma antiga televisão de tubo de raios catódicos para ajudá-lo a começar. Em uma semana típica, Willis disse que joga cerca de 20 horas de Tetris.
“Eu realmente não me importo”, disse Cox, uma professora de matemática do ensino médio. “Ele faz outras coisas além de jogar Tetris, então realmente não foi tão difícil dizer OK. Foi mais difícil encontrar uma antiga TV de tubo de raios catódicos do que dizer: ‘Sim, podemos fazer isso por um tempo'”.
Por décadas, os jogadores “venceram” o Tetris hackeando o software do jogo. Mas Willis, que no último ano se tornou um dos principais jogadores de Tetris dos EUA, é considerado o primeiro a fazê-lo no hardware original.
“Nunca foi feito por um humano antes”, disse Vince Clemente, presidente do Campeonato Mundial de Tetris. “Basicamente, é algo que todos pensavam ser impossível até alguns anos atrás”, complementou.
No mundo competitivo do Tetris, o objetivo geralmente é superar seus oponentes em vez de sobreviver mais tempo. “Tentar o colapso” do jogo é uma abordagem completamente diferente. É um ato de sobrevivência.
“A estratégia principal é jogar o mais seguro possível”, disse Willis.
É um pouco mais complicado do que isso, disse David Macdonald, criador de conteúdo de videogame e jogador competitivo de Tetris conhecido como aGameScout. Nos últimos anos, os melhores jogadores começaram a usar a “técnica de rolagem”, um método rápido de toque usando vários dedos em vez de apenas um ou dois.
Essa inovação mudou o que é possível no Tetris competitivo. Mais jogadores de alto nível estão próximos de “quebrar” o jogo, em vez de simplesmente acumular o máximo de pontos possível antes de serem derrotados.
E agora Willis elevou o nível.
“Esse prodígio do Tetris simplesmente apareceu e dominou completamente a cena profissional do Tetris”, disse Macdonald.
Willis já venceu vários torneios regionais, e seu objetivo é vencer o Mundial de Tetris, no qual ele ficou em terceiro lugar geral em outubro do ano passado. O próximo torneio de Willis será no final do mês em Waco, Texas. Até agora, ele ganhou cerca de US$ 3.000 jogando em torneios de Tetris.
E quem espera ver Willis jogando games mais novos que estão presentes no PlayStation 5, por exemplo, vai se frustrar. “Eu realmente não gosto tanto dos jogos mais novos quanto dos mais antigos”, ele disse.