WeWork: a história de ambição e ego por trás da ascensão e queda da empresa
A história de Adam Neumann e da ascensão e queda da WeWork parece mais uma parábola do que uma história de negócios. Adam Neumann, que lançou a WeWork
Reuters
A vida de Adam Neumann e a ascensão e queda da WeWork parecem mais uma parábola do que uma história comercial.
Uma fábula sobre um ego monstruoso, imensa ambição e um público crédulo.
Alto, elegante, com os pés descalços e consumidor de tequila e maconha, Adam Neumann era o protótipo do hipnotizador. Ele contratava astros do rap para as festas do escritório. Suas aspirações eram viver para sempre, ser o primeiro trilionário do mundo e expandir sua empresa para Marte.
Tudo isso, agora, parece estar a um milhão de quilômetros da humilde realidade. Afinal, sua companhia – a maior locatária de escritórios em Londres e Nova York – acaba de pedir recuperação judicial para se proteger dos mesmos locadores que antes a idolatravam.
A empresa começou com uma ideia sólida e sustentada, perfeitamente adaptada para sua época.
Oferecer um espaço de trabalho para alguém que deseja ocupar mais do que uma cafeteria e menos que um escritório não era uma ideia nova. A empresa Regus (agora, IWG), por exemplo, foi criada no final dos anos 1980 com uma proposta semelhante.
Pessoas deixam local de escritórios compartilhados da WeWork em Nova York, em imagem de arquivo
Brendan McDermid/Reuters
Mas, na época da fundação da WeWork, em 2010, as condições eram perfeitas. Instalações comerciais ficaram vazias depois que a crise financeira levou até algumas das maiores empresas à falência. Os locadores estavam desesperados.
Havia um exército de profissionais desempregados tentando encontrar uma forma de reconstruir suas carreiras. E, graças à tecnologia móvel, eles podiam trabalhar em qualquer lugar.
Taxas de juros muito baixas permitiam tomar dinheiro emprestado a baixo custo para financiar ampliações. E havia investidores com medo de perder oportunidades, dispostos a pagar quase qualquer preço para não perder a próxima Amazon, Google ou Facebook.
Misture todos esses ingredientes e sirva com cerveja grátis e fundo musical para uma multidão de jovens com fronteiras novas e indefinidas entre o trabalho a vida pessoal. Você então terá a fórmula de uma empresa que, para seus admiradores, parecia mais um movimento do que um negócio.
E, no centro de tudo, estava Neumann, que foi criado em um kibutz em Israel e chegou a Nova York em 2001.
Neumann cursou administração de empresas. Durante a faculdade, ele teve uma série de ideias brilhantes, como um sapato feminino com calcanhar retrátil e uma empresa que fabricava calças com joelheiras para bebês.
Até que, em 2008, para economizar custos, ele alugou metade dos seus escritórios para outra pessoa. Neumann e um amigo convenceram então o locador a permitir que eles dividissem alguns andares de um edifício vazio para alugar.
Este negócio recebeu o nome de Greendesk. Ele oferecia café com certificação de comércio justo e celebrava o estilo de vida comunitário dos kibutz.
Jovens e dedicados freelancers adotaram a ideia e Neumann percebeu que estava em boa direção.
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Seguindo o mesmo roteiro do fundador da Amazon, Jeff Bezos, a empresa cresce rapidamente com a ajuda de um amigo incorporador que investe US$ 15 milhões (cerca de R$ 74 milhões) por uma participação de 33%. Ele muda o nome da empresa para WeWork e o jogo prossegue.
Os financiadores se acumulam, incluindo um dos maiores investidores em tecnologia do mundo, o Softbank. O valor da empresa aumenta para US$ 47 bilhões (cerca de R$ 231 bilhões) nos sete anos seguintes.
Neumann impressionou o público e os investidores com sua visão. Ele continua a expandir seus negócios em mais de 20 países, compra um jato da empresa americana Gulfstream e contrata o rapper P Diddy para a festa da companhia.
Mas, enquanto isso, a WeWork perdia 200 mil libras (cerca de R$ 1,2 milhão) por hora.
As pessoas apontam para a pandemia e para o recente aumento das taxas de juros como responsáveis pelo fracasso da WeWork. Mas o declínio da empresa começou muito antes.
Começaram a surgir perguntas constrangedoras sobre os motivos que levaram uma companhia de sublocação de escritórios a ter o mesmo valor de uma empresa de tecnologia.
Em 2017, o Wall Street Journal afirmou que a empresa era “movida a pó de duendes do Vale do Silício”.
Na verdade, a WeWork estava em meio a um jogo comprovadamente perigoso: comprar a longo prazo e vender a descoberto.
Em outras palavras, ela alugava imensos espaços de escritório a longo prazo em locais privilegiados, na esperança de poder encontrar inquilinos de curto prazo em quantidade suficiente para cobrir suas próprias despesas e ainda ter lucro.
Mas a verdade provavelmente só veio à tona quando Neumann decidiu vender ações em uma oferta pública inicial em 2019. Documentos apresentados na época às autoridades revelaram prejuízos maiores do que o imaginado e uma estranha relação entre as finanças da empresa e as do próprio Neumann.
A oferta pública implodiu. O valor da WeWork caiu em US$ 40 bilhões (cerca de R$ 196 bilhões) em poucos meses, e Neumann renunciou ao cargo de diretor-executivo logo depois.
Seis meses mais tarde, veio a pandemia de Covid-19 e o panorama dos espaços de trabalho compartilhados alterou-se dramaticamente.
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Por fim, Neumann fez um bom trabalho ao separar suas próprias finanças da empresa fundada por ele.
O valor atual da WeWork é de aproximadamente US$ 50 milhões (R$ 245 milhões), ou cerca de um milésimo do seu valor de pico. Mas Neumann saiu da empresa com mais de um bilhão de dólares, que correspondem a mais de 20 vezes o valor atual da companhia.
O flautista mágico que encantou alguns dos maiores e, supostamente, mais inteligentes investidores do planeta seguiu adiante. Ele detém investimentos em dezenas de companhias e recebeu recentemente um aporte de US$ 350 milhões (cerca de R$ 1,7 bilhão) de outro grande nome do setor, a empresa de capital de risco Andreessen Horowitz.
Voltando à questão da parábola, podemos dizer que Adam Neumann voou perto demais do sol. Mas a cera que derreteu nas suas asas não era dele.
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