Americanas apresenta plano de recuperação judicial
Documento foi entregue no limite do prazo e inclui aporte de R$ 10 bilhões, além de vendas de ativos, leilão reverso e conversão de dívidas em ações. Foto de 13 de janeiro de 2023 de unidade das Lojas Americanas no Centro do Rio de Janeiro
Mauro Pimentel/AFP
A Americanas entregou seu plano de recuperação judicial à 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (20). A etapa faz parte do processo iniciado em 19 de janeiro, em que a empresa admitiu ter R$ 43 bilhões em dívidas com 16,3 mil credores.
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O plano da varejista foi apresentado no limite do prazo estabelecido pela Justiça e inclui aporte de R$ 10 bilhões, além de vendas de ativos, leilão reverso e conversão de dívidas em ações.
O aporte bilionário, diz o documento, será feito pelo trio de acionistas de referência da empresa: Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira.
O plano foi aprovado pelo Conselho de Administração da Companhia após reunião, nesta segunda-feira, e estabelece medidas para que a Americanas supere os problemas financeiros e continue suas atividades. A empresa disse que o plano segue em discussão e está sujeito a revisões e ajustes.
Entre as propostas expostas no plano de recuperação judicial está a venda de bens, incluindo uma aeronave da empresa avaliada em mais de R$ 40 milhões.
A companhia também sugere a venda da unidade de negócios Hortifruti Natural da Terra e da participação no Grupo Uni.Co, que inclui empresas como a Imaginarium.
A Americanas informou que espera utilizar até R$ 2 bilhões dos recursos obtidos com bens que serão vendidos para reduzir sua dívida.
Outra proposta presente no plano da empresa para o pagamento de credores é a emissão de debêntures simples, que são títulos de dívida, no valor de até R$ 5,9 bilhões. A empresa também pretende emitir debêntures conversíveis em ações.
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Relembre o caso
Balanço com ‘inconsistências’
No dia 11 de janeiro, a Americanas divulgou um fato relevante informando que havia identificado “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos, em um valor que chegaria a R$ 20 bilhões.
O rombo, causado principalmente por dívidas com bancos em operações de risco sacado, aumentava o grau de endividamento e diminuía capital de giro. Em resumo, as operações não foram lançadas adequadamente, subestimando a dívida da empresa.
Diante disso, as ações da Americanas passaram a cair. As principais instituições financeiras colocaram as ações sob revisão, e a B3, bolsa de valores de São Paulo, colocou os papéis ordinários (com direito a voto) da empresa em leilão.
O leilão é um “mecanismo de defesa” que interrompe as negociações comuns para tranquilizar momentos de muita variação na bolsa. Ainda assim, as ações caíram quase 80% – maior queda de uma empresa na bolsa brasileira desde 2008.
Batalha com bancos e outros credores
A ameaça de calote iniciou uma batalha jurídica entre a empresa e os principais credores. A Americanas conseguiu proteção contra vencimento antecipado de dívidas. A decisão que informava a proteção da varejista também dava a ela 30 dias para avaliar se iria entrar com pedido de recuperação.
No entanto, quando a empresa divulgou a íntegra da decisão sobre um pedido de Tutela de Urgência Cautelar, viu-se que o grau de endividamento da empresa era maior do que tinha sido divulgado – mais de RS 40 bi, ante os R$ 20 bi que tinham sido divulgados anteriormente.
Aí os credores se revoltaram ainda mais. O banco BTG Pactual, um dos principais credores da Americanas, recorreu na Justiça contra a liminar – que pedia até o estorno de um pagamento de R$ 1,2 bilhão feito pela Americanas ao BTG.
A partir daí, as agências de classificação de risco rebaixaram a nota da empresa e as ações caíram ainda mais.
Pedido de recuperação judicial
Na tarde do dia 19 de janeiro, a empresa entrou com o pedido de recuperação judicial, alegando ter recursos reduzidos em caixa para continuar a operar sem a medida.
De acordo com o diretor financeiro da Spot Finanças, Marcello Marin, o pedido de recuperação judicial se tornou o quarto maior da história do país, atrás somente de Odebrecht, Oi e Samarco.
A recuperação judicial serve para evitar que uma empresa em dificuldade financeira feche as portas. É um processo pelo qual a companhia endividada consegue um prazo para continuar operando enquanto negocia com seus credores, sob mediação da Justiça. As dívidas ficam congeladas por 180 dias e a operação é mantida.
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